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(Continuação)
«Deu-me Vossa Majestade grande honra ao dirigir-me a Vossa mensagem pessoal. Os contactos directos constituem entre nós uma tradição multissecular, que assenta na justa compreensão das realidades e na confiança mútua depositada nos propósitos dos dois países. É nesse espírito que agradeço aquela mensagem, a que tenho a honra de responder. Refere-se Vossa Majestade a um período relevante das relações entre a Etiópia e Portugal, quando aos Portugueses foi dada a oportunidade de auxiliar o povo etíope a repelir o invasor, que então ameaçava não apenas a integridade territorial dessa nobre Nação, mas também o direito do seu povo de viver os princípios e ideais da Fé Cristã. Tem Vossa Majestade Imperial a generosidade de afirmar que a Etiópia permanecerá sempre grata ao Governo e ao povo portugueses pelo auxílio então prestado. Permito-me acrescentar que também os Portugueses não esquecem esse passo da História, de que se orgulham pelo que nele vêem de solidariedade humana e de compreensão da transcendente importância da Etiópia Cristã, que os Vossos Ilustres antepassados criaram e Vossa Majestade Imperial firmemente defendeu e agora faz fortalecer e progredir. Declara porém Vossa Majestade que o amor do povo etíope por essa independência lhe não permite aceitar que outros povos africanos possam permanecer oprimidos; e invoca, nelas se apoiando, as resoluções da Assembleia Geral das Nações Unidas relativas ao futuro de Angola e Moçambique, como se aceitasse de facto a justiça dessas resoluções. Nós temos debatido este assunto, nas Nações Unidas, numa base essencialmente jurídica, porque foi em termos jurídicos que o problema foi inicialmente posto. Não faria porém justiça à posição particular do Vosso país em relação a Portugal, nem à alta consideração que Vossa Majestade Imperial merece aos Portugueses, se me limitasse a responder ao Vosso apelo somente com considerações de ordem jurídica, não obstante o seu decisivo valor. Contrariamente ao que erradamente se tem afirmado, a política portuguesa em África não assenta nem na opressão dos povos nem no imobilismo perante as grandes correntes da história. Quanto ao primeiro aspecto, a confiança no alto valor que Portugal atribui à liberdade e que Vossa Majestade se digna de afirmar na Vossa mensagem, permitir-nos-ia deixar de lado essa acusação, sem mais comentários. Acrescentarei, no entanto, que muito lamentamos terem as Nações Unidos rejeitado uma proposta — a que déramos o nosso inteiro apoio— de serem nomeados dois altos representantes daquele organismo, escolhidos pelo Presidente da Assembleia Geral, para verificarem localmente as condições económicas, sociais e políticas de Angola e de Moçambique.
(Continua)
POLÍTICA ULTRAMARINA (19)
Relações diplomáticas entre Portugal e a Etiópia
Cartas trocadas entre o Imperador Hailé Selassié e o Presidente do Conselho de Portugal, Dr. Oliveira Salazar. Carta de sua excelência o Presidente do Conselho ao imperador Hailé Selassié I, de 29 de junho de 1963 (II de VI)
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