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(Continuação)
Pela mesma ocasião, também o coronel Raul Esteves pediu a demissão, atitude que acabou por abandonar a pedido de Gomes da Costa. Por fim o nome do eng. Ezequiel de Campos é posto de parte e o comandante Jaime Afreixo aceita a pasta da Marinha. O grande escândalo do dia será a publicação dum suplemento ao Dário do Governo n.° 119, da I Série, onde é publicada a Lei 1872, que diz textualmente assim: «Em nome da Nação, o Congresso da República decreta e eu promulgo a Lei seguinte:
Artigo I.° — São reconhecidos como revolucionários civis os cidadãos constantes da lista junta. Artigo 2.° — São reconhecidos como revolucionários militares de 5 de Outubro de 1910 os cidadãos constantes na lista junta, os quais ficam ao abrigo das disposições da lei n.° 1158 de 30 de Abril de 1921, devendo a passagem à situação de reforma dos oficiais ser regulada pelas disposições do artigo I.° e a dos sargentos e demais praças pelas do artigo 2.° da mesma lei. Artigo 3.º — Fica revogada a legislação em contrário. (As duas listas referidas nos artigos I.° e 2.° publicadas a seguir incluem 179 nomes de indivíduos da classe civil e 21 da classe militar). O Presidente do Ministério e Ministro da Marinha e interino das demais repartições a faz imprimir, publicar e correr. Paços do Governo da República, 31 de Maio de 1926.
Bernardino Machado José Mendes Cabeçadas Júnior»
que todo o caminho até ao Quartel General não me falou noutra coisa senão no grande valor dos srs. Drs. Oliveira Salazar e Manuel Rodrigues, o primeiro como um grande financeiro e o segundo como um jurista eminente. Ouvi em silêncio aquelas apreciações e quando cheguei a Lisboa, depois da conferência com Gomes da Costa enviei um telegrama ao então sr. coronel Schiappa de Azevedo que comandava a Divisão pedindo-lhe para em meu nome convidar aqueles dois professores e mais o Dr. Mendes dos Remédios, para Ministros das Finanças, da Justiça e da Instrução. Quando na Amadora ficou assente o primeiro Governo Revolucionário inclui na lista os nomes dos três lentes.
O caso causou o maior escândalo e indignação em todo o País, sendo necessário o Governo vir em nota oficiosa dizer que a Lei fora assinada por lapso pelo sr. Cabeçadas e que este mesmo ia propor em Conselho de Ministros a sua revogação. No dia 6 realiza-se, sob apoteóticas manifestações populares, a grande parada militar, entrando Gomes da Costa à frente das tropas em Lisboa. Na tribuna do Governo tomam lugar os representantes diplomáticos acreditados em Lisboa, o que é de certo modo a tácita afirmação do reconhecimento por parte das nações estrangeiras da nova situação. No dia 7 Gomes da Costa toma posse das pastas da Guerra e das Colónias. Também o general Alves Pedrosa toma posse da pasta da Agricultura e o comandante Jaime Afreixo da da Marinha. Os ministros dos Estrangeiros, Justiça e Instrução haviam tomado posse no dia 4. Pelas 16 horas realizou-se o Conselho de Ministro no Palácio de Belém, que não forneceu qualquer nota à imprensa.
(Continua)
Documentos Históricos (41)
A arrancada de 28 de Maio de 1926, por Óscar Paxeco – 1956. Elementos para a história da sua preparação e eclosão.
A opinião de Sinel de Cordes (III de III)
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