|
..:. TEXTOS
(Continuação)
opôr às tropas do Norte as tropas do Sul e do Centro do País. Manda-se avançar o II de Setúbal, o 4 de Faro, o 33 de Lagos, que os políticos recebem triunfalmente em Lisboa. Esses regimentos, compreendendo que foram logrados, voltam a juntar-se à sua Divisão e a obedecer ao general Gomes da Costa. «Os inimigos da Ordem não desarmam. Procuram exercer pressão sobre a Divisão de Évora, mandando-a concentrar em Vendas Novas. A Divisão não obedece. Delegados sucessivos entram a cada hora no gabinete do comandante. — Veja o que vai fazer! A sua orientação é perigosa para a República e antipática ao espírito do povo! Lembre-se dos espectros de Pimenta de Castro e Sidónio Pais! «E Cabeçadas consente tudo. «Anteontem à noite, o general é procurado no Porto por três delegados da guarnição de Coimbra — três oficiais-políticos. «Esses oficiais — o pormenor é grave — tinham projectado, anteriormente, um movimento que desse a chefia do Exército ao António Maria da Silva. Falam da República em perigo — e pedem ao general, em nome da guarnição de Coimbra, que vá àquela cidade avistar-se com Cabeçadas. Como estas representações se arranjam sabemos nós todos. O general acede. Mas põe como condição: a entrevista de Coimbra seria só com o comandante Cabeçadas — só com ele. Nesse mesmo dia, pela madrugada, aparece no Quartel-General da 3a Divisão o comandante Ochôa. O general já aborrecido responde: a única força organizada é a minha. Só há uma solução, em vez de eu ir a Coimbra que venha o comandante ao Porto, deixando de comprometer o seu nome e desvirtuar, embora involuntariamente, o Movimento.» Pinto Correia continua:
«Coincidindo com a vinda de Ochôa, por milagre telepático chegava ao Quartel-General um telegrama dizendo que Cabeçadas abandonara o Governo, saíra de Lisboa e recolhera à Amadora! «Ontem realizou-se a conferência em Coimbra. Essa conferência, em vez de se realizar entre os dois, conforme acordo feito, teve uma terceira personagem: o comandante Ochôa que até então não aparecera com figura de relevo no Movimento. Eu, que sempre acompanho o general, não pude entrar na sala. Não despedacei a porta a pontapés por respeitar a casa alheia. Ochôa aparecia inopinadamente a discutir de igual para igual — ele simples intermediário da Revolução e que como intermediário fora recebido pelo general! O comandante Cabeçadas apresentou a proposta do triunvirato que os jornais publicaram e que aos jornalistas e às Divisões foi transmitida pelos seus amigos políticos. Essa proposta era inaceitável. Quem fizera a Revolução? Comes da Costa! A ele cabia o primeiro lugar. Cabeçadas que devia ter sido o Chefe da Revolução em Lisboa, menos feliz que o general — nada fizera. Dessem-lhe o segundo lugar no Estado. Quanto a Ochôa, cujos serviços nem por sombras podiam colocá-lo em situação de igualdade com os primeiros, ficaria bem num lugar sem grandes responsabilidades. Esta proposta levanta discussão larga. Não se chega a um acordo. Segue-se outra reunião de oficiais dos Comités de Braga, Coimbra, Entroncamento e Viseu. A mesma discussão, O mesmo nulo resultado. E não obstante a nota saiu a lume na imprensa.» E Pinto Correia, depois de referir o discurso de Comes da Costa após a reunião, acrescenta: — «No fim do discurso Mendes Cabeçadas e Armando Ochôa saíram juntos, a testa baixa, separando-se do general. Fizeram em carros diferentes o trajecto do Quartel-General à estação velha — o general sempre só, os dois sempre juntos. Na estação continuaram isolados do general conversando com o grupo dos oficiais políticos. Já no rápido tomaram compartimentos diferentes, O general convidou Cabeçadas a acompanhá-lo. O comandante veio e no longo trajecto, Coimbra-Entroncamento, trocou só três ou quatro palavras com o nosso Chefe, simulando dormir. Para um triunvirato que acabava de formar-se e que tão complexa missão tinha a cumprir — é silêncio demais! O comandante meditava o decreto que iria sancionar as notícias dos jornais... — De modo que o desacordo? — arrisca o jornalista. — É completo, total. Desacordo de princípios e de factos. Saltaremos por cima de tudo para salvar a Revolução. O general Comes da Costa que prometera voltar, surge de novo — muito sorridente. Surge a tempo de ouvir aquela frase final. — É assim. Só temos um caminho a seguir. A marcha sobre Lisboa, a das muitas e desvairadas gentes, como ontem lhe disse. Já não falta muito! A concentração prossegue activamente.
(Continua)
Documentos Históricos (37)
A arrancada de 28 de Maio de 1926, por Óscar Paxeco – 1956. Elementos para a história da sua preparação e eclosão.
A denúncia do acordo de Coimbra Cabeçadas nas mãos dos políticos (II de III) Consultar todos os textos »»
|