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(Continuação)
Gomes da Costa, entretanto, já desceu até ao Entroncamento onde instalou o seu Quartel-General no 4º Grupo de Sapadores de Caminho de Ferro. É aqui que às primeiras horas da manhã recebe os tenentes aviadores Pais Ramos e Brandão de Brito, portadores duma carta confidencial. Após a sua leitura convoca, imediatamente, para uma reunião o tenente-coronel Raul Esteves e o comandante Filomeno da Câmara, e duas horas depois fica resolvido renunciar o acordo de Coimbra. Gomes da Costa envia então o seguinte telegrama a todas as unidades:
«Comunico, para conhecimento de todos os oficiais, que não estou de acordo com a notícia dos jornais acerca da formação do Ministério, continuando à frente do movimento de carácter exclusivamente militar, para engrandecimento da Pátria e para bem da República e do Exército.
Gomes da Costa General»
A um enviado de O Século declarara:
«— Tudo o que se publicou foi sem meu conhecimento. Não vou para Lisboa, marcho sobre Lisboa. — Mas então o triunvirato... o que se resolveu em Coimbra... — Qual resolveu — atalha Gomes da Costa. — Calcule! Eu ministro da Agricultura! Eu a tratar agora de batatas!... Desminta tudo! Desminta tudo no Século! Nada se resolveu em Coimbra. No mesmo dia, Pinto Correia falando ao Jornal de Notícias do Porto, explica as razões de discordância de Gomes da Costa, quando diz ao jornalista: — Enganaram o general. Mentiram ao general. O general foi vítima dos artifícios dos políticos. São a pior cambada, a maior canalha que infesta o País. São milhares de estômagos em perigo, fazendo funcionar milhares de cérebros alucinados. Todos os recursos são óptimos para salvar a gamela. E mais adiante o ajudante de Gomes da Costa acrescenta: — As nossas divergências são profundas. Cabeçadas organizou, com Bernardino Machado, o Ministério Nacional sem nos consultar sequer. E todavia o Exército não considerava Chefe do Estado o Presidente, pelo facto revolucionário, O comandante não queria, por falta de coragem, dissolver o Parlamento — que a Revolução automaticamente aniquilou nem quis demitir o António Maria da Silva da Direcção dos Correios, sendo preciso para o fazer que o general se impusesse. Quem desviou os intuitos do Movimento? O general que acompanhou as Divisões e as levou à vitória ou o comandante que tratou com políticos, lidando com eles e estabelecendo com eles acordos? «A falta de energia de Cabeçadas amolenta-o, fá-lo presa de todas as sugestões, ainda as mais perigosas. O Ministério da Guerra, durante a Revolução, esteve pejado de oficiais políticos. — Sá Cardoso, Álvaro de Castro, Pereira Bastos, Carlos Vilhena, o «Manuel Dentista»... O comandante Procópio de Freitas foi autorizado a sentar-se num Ministério de onde o tirou o protesto de 110 oficiais de marinha, com o valoroso comandante Jaime Afreixo à frente. Nessa mesma noite Procópio de Freitas quis tentar urna sublevação de marujos no Arsenal. Cabeçadas peado e sem coragem, não agia. No entanto, os esquerdistas, sob as suas vistas complacentes, tramavam. Fazia-se a junção da extrema-esquerda, a C.G.T. proclamava a greve geral revolucionária, o Sul e Sueste paralisava os serviços ferroviários, O comandante para não ferir os princípios republicanos, consentia, permitia tudo. Como o ardil não surte efeito, recorre-se à força. Tenta-se
(Continua)
Documentos Históricos (36)
A arrancada de 28 de Maio de 1926, por Óscar Paxeco – 1956. Elementos para a história da sua preparação e eclosão.
A denúncia do acordo de Coimbra Cabeçadas nas mãos dos políticos (I de III) Consultar todos os textos »»
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