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(Continuação)
«Segui para Évora sem uma esperança, por aí além, no bom êxito da minha missão, visto que achava muito natural que o comandante interino da Divisão me prendesse. «Foi mesmo a prever esta hipótese que, ao chegar àquela cidade, enquanto me dirigia para o Quartel-General, mandei o meu ajudante percorrer os quartéis da guarnição, onde sabia contar com grandes dedicações, e dizer aos oficiais que se dentro de pouco tempo não estivessem a receber ordens minhas, como comandante da Divisão, era porque tinha sido preso no Quartel-General. «Aqui tudo se passou da forma mais simples. Recebido, logo que cheguei, pelo coronel Viegas, disse-lhe pura e simplesmente: « — Meu caro coronel, eu estou aqui para tomar conta, revolucionariamente, da Divisão. Você só tem dois caminhos a seguir: ou me entrega o comando ou prende-me. «O coronel Viegas, colocado neste dilema, pediu-me algum tempo de espera — o suficiente para reunir os comandos e ouvir a opinião deles. E, amavelmente, convidou-me a assistir à reunião. Disse-lhe que não tinha nada a fazer nela e apenas aguardava as suas deliberações. «Passado algum tempo apareceu-me o coronel Viegas a dizer que os comandos nada tinham resolvido e iam ouvir os oficiais, sem o que coisa alguma fariam. «Mais tarde, depois de consultados os oficiais, realizou-se nova reunião dos comandantes a que já assisti, e na qual ficou assente entregarem-me o comando da Divisão. Recordo-me, perfeitamente que o primeiro comandante a declarar-se inteiramente ao meu dispor, afirmando seguir-me fosse para onde fosse, foi o coronel Neves e Castro. Não posso esquecer este procedimento. Após este, todos os outros comandantes se afirmaram às minhas ordens, tendo o da G.N.R. observado que não aderia à Revolução mas se conservaria neutral. «Fiz-lhe ver que o momento não era para semelhantes atitudes, que, pelo contrário, todos deviam tomar posições claras e definidas e, sem ligar ao facto importância de maior, tratei logo de tomar as providências que as circunstâncias exigiam. Primeiro tratei de obter em Évora os carros necessários para o transporte de tropas. O resultado foi maravilhoso: podia contar, creio, com todos. «Como quer que se afirmasse que havia gente no Barreiro — tropas e marinheiros dispostos a combater-nos — organizei uma coluna com cavalaria e artilharia, mandando pedir infantaria ao general Gomes da Costa. Segui pois, para Vendas Novas, onde no mesmo dia o comandante da Escola Prática de Artilharia, coronel Bilstein de Menezes, tinha impedido com energia e decisão que um golpe de mão dirigido de Lisboa lhe levasse as peças, e aí nos concentrámos, depois de cortar as comunicações ferroviárias e telegráficas, dispostos a dar combate ao suposto inimigo que todos julgávamos no Barreiro.»
Logo se soube que o general Carmona se encontrava à frente da Divisão de Évora, todo o Sul, pode dizer-se, se pôs às ordens do ilustre militar. E começaram as adesões: Mafra, o Algarve com as suas várias guarnições, Castelo Branco, Setúbal, etc.... Ao mesmo tempo começou a fazer-se no Entroncamento, por ordem de Gomes da Costa, a concentração de tropas. Para ali se dirigiram o coronel Mousinho de Albuquerque, comandante da Escola Prática de Cavalaria de Torres Novas, que assumiu o comando do destacamento, e tenentes-coronéis Raul Esteves e Passos e Sousa. No Norte, Gomes da Costa, a quem constantemente chegavam adesões, marchava sobre o Porto, onde Infantarias 18 e 31 e a Artilharia da Serra do Pilar desde o início da Revolução se haviam manifestado a favor da Revolução. Do Porto, Gomes da Costa iniciou a sua marcha sobre Lisboa.
(Continua)
Documentos Históricos (28)
A arrancada de 28 de Maio de 1926, por Óscar Paxeco – 1956. Elementos para a história da sua preparação e eclosão.
A adesão do Sul e a acção de Carmona (III de III) Consultar todos os textos »»
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