21 de novembro de 2024   
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(Continuação)

fazer, visto estar uma revolução na rua. É claro que compreendi ser sua intenção ganhar tempo, para o comboio passar sem ele ter falado com Lisboa e, portanto, eu não poder embarcar por falta de bilhetes, o que, de facto, aconteceu.
«Como não pude seguir viagem, regressei a Elvas.»
E o falecido Presidente da República continuou:

«No dia 29 nada de positivo se sabia nesta cidade (Elvas). (*)
Começaram a correr boatos de que qualquer coisa se passava com aspecto grave, mas só a 30, salvo erro, é que se recebeu o telegrama do general Alves Pedrosa, comandante da 7º Divisão, a que Elvas estava subordinada, perguntando se podia contar com aquela cidade para a Revolução.
«Acto contínuo realizou-se uma reunião a que presidi. Declarei, imediatamente, que me punha às ordens da Revolução e vi que era seguido por todos os oficiais, excepção feita ao comandante da Guarda Fiscal, que declarou não aderir...
«Tendo sido demitido da 4º Divisão e, portanto, sem comando de tropas, fiquei em Elvas, aguardando ordens, o que seria, naturalmente, a consequência lógica da nossa atitude.
«De facto, ao outro dia pela manhã, ainda eu estava deitado, chegou àquela cidade o então tenente-coronel Raul Esteves, acom-
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* Efectivamente era assim mesmo. No entanto, no dia 28, pela manhã, chegou a Elvas, com uma carta do tenente-coronel Raul Esteves para o General Carmona o nosso camarada da Imprensa Sebastião Cardoso, então redactor da «Épocas, que na véspera havia saído de Lisboa. Pondo-se em contacto com o tenente-coronel Passos e Sousa deu-lhe conta da credencial de que era portador para o antigo Comandante da 4ª Região. O Governador do Forte da Graça ponderou-lhe a exiguidade da guarnição de Elvas onde havia praticamente meia dúzia de soldados que, portanto pouco poderia fazer e concordou com a diligência junto do General Carmona, lembrando também, ainda, a conveniência de ser falado o capitão Gomes Pereira, então em Vila Viçosa.
Sebastião Cardoso não conseguiu, porém, chegar à fala com o General Carmona e a fim de não perder tempo telegrafou para Lisboa a dar conta de que não se podia contar, grandemente, com Elvas seguindo para Vila Viçosa no único meio de transporte de que podia dispor naquela altura a camioneta do Correio em cima de cujas malas fez a viagem para a Vila Ducal. Aqui falou com o capitão Gomes Pereira que depois de lhe dizer não ser possível fazer ali o que quer que fosse lhe sugeriu a conveniência de se falar com o coronel Domingos de Oliveira, comandante de Brigada de Cavalaria, com sede em Estremoz.
O coronel Domingos de Oliveira com quem Sebastião Cardoso se
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panhado pelo alferes Carvalho Nunes, que logo me procuraram. «O tenente-coronel Raul Esteves disse-me, da parte do general Gomes da Costa, que era, em virtude do Sul se encontrar parado, necessário ir eu para Évora assumir revolucionariamente o comando da 4ª Divisão, então entregue ao coronel Viegas, um oficial distinto e sabedor, que servira sob as minhas ordens e me merecia grande consideração.
«Observei a Raul Esteves que não em assim tarefa muito fácil tomar, revolucionariamente, o comando duma Divisão. Mas se tal era necessário, que iria sem perda dum momento.
«Imediatamente se espalhou que eu ia sair para Évora, e então muita gente me cumprimentou com a maior simpatia. Logo apareceu o automóvel dum voluntário de cavalaria de Elvas, para me transportar, e no Sindicato Agrícola da cidade ofereceram-me um «Porto de Honra», em que ouvi as primeiras saudações à Revolução Nacional e grandes manifestações de agrado.
«Deu-se à saída de Elvas um incidente curioso. O rapaz que guiava o automóvel, naturalmente pouco experiente, atirou com ele contra um poste telegráfico, podendo daqui resultar o fracasso, ou pelo menos o retardamento, da minha missão. Felizmente o poste, como tudo, aliás, estava podre e não resistiu ao choque, caindo miseravelmente. O meu começo de serviço parece que profetizava um bom fim...
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avistou no dia 29 manifestou a opinião de ser necessário que o General Carmona se pusesse, quanto antes, à frente da Divisão. E, para o conseguir mais rapidamente, mandou de sua parte a Elvas seus filho e genro, o comandante Soares de Oliveira e o tenente Chabi.
O enviado de Raúl Esteves, voltou a telegrafar a Lisboa, dando conta das dificuldades encontradas. Ao mesmo tempo, porém, punha-se em contacto com os oficias de Metralhadoras de Extremoz aos quais deu conta do que se passava. Estes, que receberam a notícia com o maior entusiasmo, em face da resistência que por toda a parte se sentia, resolveram fazer um passeio militar pela cidade.
Enquanto isto acontecia aquele nosso camarada fazia afixar no «placard» de «A Voz» naquela cidade alentejana, notícias dando conta das adesões a Gomes da Costa e consequentemente do alastramento vitorioso da Revolução e de novo em telegrama de urgência insistia para Lisboa na necessidade de se falar ao General Carmona. Este telegrama determinou, finalmente, a ida a Elvas do tenente-coronel Raúl Esteves e do alferes Carvalho Nunes.
Regressando de novo àquela cidade fronteiriça onde encontrou já estes dois oficiais, Sebastião Cardoso acabou por vir para o Entroncamento no mesmo comboio em que veio Passos e Sousa com as suas tropas.

(Continua)

Documentos Históricos (27)

A arrancada de 28 de Maio de 1926, por Óscar Paxeco – 1956.
Elementos para a história da sua preparação e eclosão.

A adesão do Sul e a acção de Carmona (II de III)

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Música de fundo: "PILGRIM'S CHORUS", from "TANNHÄUSER OPERA", Author RICHARD WAGNER
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