|
..:. TEXTOS
(Continuação)
Enquanto a Revolução ia alastrando, e no Norte e em Lisboa se passavam os factos que deixamos relatados, todo o Sul, sob o comando do general Carmona «arrancava» também, apoiando o grito decidido e patriótico de Gomes da Costa. Logo que o general Sinel de Cordes resolveu secundar o Movimento, foi decidido que o tenente-coronel Raul Esteves, acompanhado pelo alferes Carvalho Nunes, partisse para Elvas a fim de transmitir ao general Carmona a ordem de ir assumir revolucionariamente o comando da 4ª Divisão. Ante a dificuldade da viagem e por se temer que aqueles oficiais pudessem ser presos, chegou a pôr-se a hipótese de se utilizar um aparelho da aviação naval, onde se contava com o tenente-aviador Cabral, que decerto não se recusaria a prestar esse serviço. A propósito desta «demarche» contou, depois, o sr. eng. José Luís Supico:
«Começava já a pôr-se a ideia de parte (a da ida de Raul Esteves a Elvas) quando o alferes Carvalho Nunes lembrou a possibilidade de se arranjar um aparelho da Aviação Naval, onde se contava com o tenente-aviador Cabral, que certamente se não recusaria a fazer esse serviço. Resolveu-se que fôssemos, eu e o Carvalho Nunes à Aviação Marítima. Mas como temêssemos que a G.N.R. e a polícia nos não deixassem passar, servi-me dum expediente de minha invenção. Fui a casa mandei vestir minha mulher em traje de baile e meti-a no automóvel a meu lado. Ao chegarmos a Alcântara mandaram-nos parar. Declarei que ia para uma festa em Algés e acto contínuo deixaram-nos seguir. Por fim chegámos ao Centro da Aviação Marítima. A minha mulher ficou cá fora, no carro, e eu e o Carvalho Nunes entrámos. Sem rodeios de maior, disse ao que íamos. Os rapazes receberam-nos o melhor possível, pondo-se à nossa disposição, mas afirmando no entanto que devia ser difícil levar à prática semelhante intento, porque a isso se oporia certamente o comandante que estava no primeiro andar e, logo que ouvisse o motor a trabalhar interviria. Foi então que tomei a resolução de ir falar ao comandante, um capitão-de-mar-e-guerra, cujo nome não recordo e que recebendo-me atenciosamente, aliás, sempre me foi dizendo que não cedia o avião, porque o Centro de Aviação Marítima se mantinha neutral. Mas, para ficar de bem com Deus e com o Diabo, à despedida não se esqueceu de me pedir que apresentasse os seus cumprimentos aos chefes revolucionários, por cujo triunfo fazia ardentes votos... Por fim, por intermédio do Pompeu das Neves, o intemerato e audacioso conspirador monárquico, tesoureiro das Juventudes Monárquicas de Lisboa, arranjou-se um automóvel que levou o tenente-coronel Raul Esteves e o alferes Carvalho Nunes a Elvas.»
Damos agora a palavra ao saudoso marechal Carmona, que nos contou assim a sua intervenção na arrancada de 28 de Maio: «No dia 28 de Maio a vida em Elvas decorreu tranquilamente, ignorando-se por completo o que se passava no Norte do País. Foi nessa noite que, em virtude de serviço a desempenhar como membro do júri de exames para generais, me dispus a embarcar para Lisboa, no comboio de Badajoz. Vim para a estação com o meu ajudante e grande foi o meu espanto quando este me declarou que o chefe da estação se recusava a dar-nos os bilhetes para podermos embarcar com a única explicação de que não satisfazia requisições militares. Insisti e o homem usando dum expediente que logo compreendi, respondeu-me simplesmente que ia telefonar para Lisboa, pedindo indicações sobre o que devia
(Continua)
Documentos Históricos (26)
A arrancada de 28 de Maio de 1926, por Óscar Paxeco – 1956. Elementos para a história da sua preparação e eclosão.
A adesão do Sul e a acção de Carmona (I de III) Consultar todos os textos »»
|