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(Continuação)
que peço para mim. Eu não represento nada. Sou apenas o instrumento da fatalidade que veio ajudar a eclosão do Movimento. «— Quais as reformas de administração que tem em vista? Em primeiro lugar pôr de parte todas as leis feitas com objectivos particulares que defendam apenas interesses de alguns indivíduos, contrariando o interesse geral da Nação. São leis atentatórias da moral que é absolutamente indispensável revogar. Em seguida pôr cobro a todos os escândalos administrativos que se vinham registando há alguns anos a esta parte e cujos responsáveis ficaram impunes. «— A Presidência da República? «— É um ponto delicado. O Bernardino Machado, pela atitude que tomou nos últimos tempos, vê-se que perdeu muitas daquelas qualidades brilhantes que fizeram dele, durante muitos anos, uma figura moral digna do nosso respeito. Devo dizer-lhe que tenho uma grande consideração por ele, mas entendo que nesta hora já deve ter compreendido que é tempo de pedir a reforma. «— E para o substituir? «— Escolheremos uma pessoa com as qualidades necessárias para desempenhar esse alto cargo. «— Quem? «— Não sei. Mas temos ainda alguns homens entre os quais se pode escolher. «— E que destino reservam aos políticos? «— Os políticos continuarão a sua vida particular, com mais segurança e maior garantia de respeito do que tem sucedido até hoje. Esperamos que tenham tempo de se regenerar. É claro que quando falamos em políticos já atribuímos à palavra o sentido pejorativo. São os maus políticos, porque os bons, esses podem continuar — colaborar na governação pública. «— O que vai passar-se agora, sr. general? «— Se fosse na Guerra eu saberia responder-lhe, mas num caso de revolta interna nunca se sabe o que se vai passar. «— Parece-lhe inevitável um encontro de tropas? «— Não posso responder-lhe. Procuraremos evitá-lo. Não tenho interesse algum em fazer guerra contra irmãos. «— O que me diz sobre a organização da revolta? «— A organização não era antiga. É certo que o Exército vinha reconhecendo há muito tempo a necessidade de intervir na política, para bem da Nação. Falava-se à boca pequena, no seio das unidades militares, em impor aos políticos um caminho diferente daquele que têm seguido até hoje. Faltava apenas chegar-se a um entendimento geral. A hora desse entendimento soou e nós encontrámo-lo aqui, disposto a prosseguir sem hesitações nem defecções, até alcançar a vitória final. «— O sr. general interveio na preparação? «— Propriamente na preparação não tive interferência. Várias pessoas se encarregaram da sua organização. E eu fui convidado a assumir o comando na ante-véspera.
As adesões a Gomes da Costa continuavam de todos os pontos do País. Era a organização de Sinel de Cordes, nunca é demais referi-lo, a funcionar completamente, agora ajudada pelos Correios e Telégrafos nas mãos dos revolucionários que ocuparam a Central, onde o «grupo» do Século, chefiado pelo dr. Trindade Coelho e Carlos de Oliveira, tão grandes serviços prestou à causa da Revolução. E foram os telegramas forjando adesões, dando conta dum alastramento do Movimento que então ainda não era real. Ao mesmo tempo retardavam-se o mais possível os telegramas governamentais, tomando providências, procurando travar a marcha vitoriosa da Revolução. É evidente que os telegramas que ficavam por transmitir não obtinham resposta, e esta ausência de notícias espalhava o pânico no Governo. No entanto, num contraste arreliante, todos os telegramas captados na Central dando conta de adesões, eram logo, e apressadamente, comunicados ao Presidente do Ministério, sr. António Maria da Silva, que a certa altura se não conteve que não dissesse para a Central dos C.T.T.: — Com que prazer os srs. me estão dando essas notícias...
(Continua)
Documentos Históricos (25)
A arrancada de 28 de Maio de 1926, por Óscar Paxeco – 1956. Elementos para a história da sua preparação e eclosão.
Os fins da Revolução, segundo Mendes Cabeçadas e Gomes da Costa (II de II) Consultar todos os textos »»
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