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(Continuação)
Entrevistado logo após a prisão, Mendes Cabeçadas contou então ao jornalista: «Sabendo que as divisões do Norte se revoltaram contra a violação da Constituição, resolvi ir ter com elas, mas fui preso aqui, e o automóvel em que viajava apreendido.» Depois de afirmar que no Movimento se encontrava envolvida a quase totalidade do Exército e da Marinha, e por isso tinha como certo o êxito, aquele oficial falou das finalidades da Revolução acentuando: «Tem-se dito para aí que o Movimento é radical e eu peço-lhe que desminta essa afirmação falsa que tem sido feita com fins reservados para prejudicar o Movimento que é nacional, pretendendo satisfazer todas as correntes de opinião. Não sendo contra nenhum partido político, também não é a favor de qualquer deles. «Queremos apenas libertar este desgraçado País do predomínio dum partido que o tem levado à sua miserável situação de hoje, não hesitando servir-se de todos os meios de corrupção, transformando-o num feudo em que se afogam todas as nossas tradições.» Enquanto Mendes Cabeçadas fazia estas declarações aos jornalistas, o Diário de Lisboa, do dia 29, publicava a entrevista que o dr. Norberto Lopes tivera em Braga com Gomes da Costa e que a população alfacinha lia com o maior e mais vivo interesse: «— Qual o carácter do Movimento? — começou por perguntar o jornalista ao general Gomes da Costa. «— Exclusivamente militar. Nem conservador nem radical. Pode chamar-lhe de ressurgimento nacional. «— Os fins da revolta? «— Levar o Exército a intervir na política com o fim de moralizar a nossa administração pública. «— O que pensam fazer se ficarem senhores da situação? «— Constituir um Governo militar composto pelas pessoas que dirigiram o Movimento para que as suas intenções não sejam atraiçoadas. Sucede frequentemente em Portugal os políticos aproveitarem, em seu benefício, de movimentos militares cujas intenções eram diferentes daquelas que os seus organizadores tinham em vista. Sacrifício inútil que nós não aceitamos de forma alguma. «— Quais são as pessoas indicadas para o Governo? «— O comandante Mendes Cabeçadas, um oficial superior, cujo nome ainda lhe não posso dizer, e eu. Constituiremos assim um triunvirato apoiado pela Marinha e pelo Exército e rodeado dum Conselho Técnico que será escolhido entre as pessoas que ofereçam maiores garantias de competência e honestidade. Estamos absolutamente dispostos a manter a tranquilidade e o respeito pela Lei, para que as pessoas competentes possam trabalhar, dando à vida nacional um impulso para a frente. Terminada esta atmosfera e logo que as coisas estejam bem encaminhadas entregaremos o Governo a homens que saibam governar. «— Que medidas pensam tomar, de momento? «— A dissolução imediata do Parlamento, que vem exercendo uma acção desmoralizadora sobre os nossos costumes políticos. Eu bem sei que há homens honestos e competentes entre os membros do Parlamento. Mas a maioria é de incompetentes e a obra de descrédito que estão realizando é nefasta para o País e para as instituições republicanas. «— Acredita que algumas pessoas retiradas da vida pública e que constituem ainda uma esperança, lhe prestem a sua colaboração? «— E porque não hei-de acreditar? Não é um serviço pessoal
(Continua)
Documentos Históricos (24)
A arrancada de 28 de Maio de 1926, por Óscar Paxeco – 1956. Elementos para a história da sua preparação e eclosão.
Os fins da Revolução, segundo Mendes Cabeçadas e Gomes da Costa (I de II) Consultar todos os textos »»
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