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(Continuação)
E chega a altura de referirmos o que, ao mesmo tempo, se passava em Lisboa. Independentemente da organização de Sinel de Cordes e portanto da de Gomes da Costa e dos seus tenentes, formara-se um «Comité Revolucionário» composto pelos comandantes Mendes Cabeçadas e Armando Ochôa, major Manuel Valente, capitão Jaime Baptista e tenente Carlos Vilhena, que logo fazia distribuir a seguinte proclamação:
«Pela Pátria e pela República Portuguesa — Soou, enfim, a regeneração da Pátria. Um movimento dominador inspirado na defesa dos mais sagrados interesses, em que cooperam Povo, Exército e Marinha, alastra pelo País inteiro. Sem preocupações de castas, de partidos ou de personalismos visa essencialmente a criar um Exército forte e disciplinado e a robustecer o próprio poder civil pela selecção das competências, tornando possível dentro das instituições vigentes a satisfação das mais instantes reivindicações nacionais. «Homens de todas as opiniões e de todos os credos aparecem irmanados na luta contra uma política ruinosa e imoral que tem afrontado todos os sentimentos de justiça e desvirtuado os nobres princípios que se consubstanciam na ideia da República. «Quinze anos de criminoso desleixo, de cega imprevidência, de baixa disputa de interesses pessoais, provocaram a corrupção dos caracteres e das inteligências e a dissolução dos costumes ofuscando a recordação das brilhantes tradições que firmaram perante o Mundo civilizado a glória do Povo Português. «Alguns factos bastam com o seu eloquente significado, para revelar o estado de profunda decadência a que chegámos e os perigos que ameaçam as condições vitais internas e externas do País. «Um Governo de medíocres sem capacidade para tomar as medidas de salvação que as circunstâncias impõem, e sem energia ou autoridade para coibir os desmandos dum partidarismo desregrado. «Um Poder judicial enfraquecido e desprestigiado sem condições para assegurar a independência dos magistrados e sem normas eficazes para reprimir as violações da Constituição ou punir as ofensas contra a vida ou propriedade dos cidadãos. «Um Chefe de Estado reduzido à posição humilhante dum simples ofício de chancela, sem acção e sem responsabilidade, tendo de assistir impassível a todos os atropelos à lei e a todas as violências do Poder. «Uma força militar que contém em si as melhores energias e aptidões quase desprovida de recursos e de meios de defesa, e constantemente sacrificada às conveniências e arbitrariedades dos políticos; «Uma situação económica aflitiva, sem habitações bastantes para a população, sem a garantia primordial das subsistências, sem vias de transporte e comunicações regulares, sem indústrias, sem comércio com vida própria, e sem meios de circulação, com um valor real e estável; «Um tesouro quase exausto, esmagado pelo aumento desmedido das despesas e servido por uma rede asfixiante de impostos com uma larga dívida de Guerra em aberto; «Uma instrução deficiente, mal descriminada e desconexa, sem a lógica coordenação dos ramos de ensino, sem um Magistério devidamente habilitado e sem métodos apropriados às qualidades da Raça e condições do meio social; «Um poderoso império colonial entregue à cobiça de aventureiros com direcção inepta e sem um plano que conjugue e impressione os grandes e porfiados esforços das iniciativas individuais; «É contra esta situação que é preciso reagir, procurando
(Continua)
Documentos Históricos (21)
A arrancada de 28 de Maio de 1926, por Óscar Paxeco – 1956. Elementos para a história da sua preparação e eclosão.
Lisboa agita-se... — Uma proclamação-legenda certa da vida nacional (I de III) Consultar todos os textos »»
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