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(Continuação)
O general Peres, sem aderir, sem sequer comprometer um cabelo, não se mostrou inteiramente contrário ao Movimento. À hora previamente marcada a Revolução estava, com efeito, na rua. Em Infantaria 8 comandava o capitão José da Luz Brito, um herói da Grande Guerra, que pelos seus feitos conquistou a Torre-e-Espada. Do regimento faziam também parte os tenentes Daniel Braga, Serafim, Manuel Gonçalves da Silva e Trindade, todos como o capitão Brito, membros da Junta Revolucionária. Desde o começo da madrugada do dia 28, que ali se estava vivendo a azáfama das grandes horas, dos momentos decisivos, distribuindo-se armamento, carregando-se metralhadoras, enfim, pondo-se tudo em pé de guerra. Cerca das 4 e 30 O capitão Brito mandou tocar a formar companhias, convidando o «oficial de dia» a aderir à Revolução o que este fez sem relutância. Foi aqui que, momentos depois de formado o Regimento, se deu o seguinte episódio: Avisado da eclosão do Movimento pela conversa com o tenente Pinto Correia, o general Peres, acompanhado do seu ajudante, tenente Lopes Mastins e do tenente-coronel Dias Pereira, dirigiu-se a Infantaria 8, vestido à paisana. Como a porta de armas estivesse fechada bateu e declinou a sua identidade: — O comandante da Divisão. A pesar disso a porta não se abriu. Mas à varanda da sala dos oficiais apareceu o capitão Brito, rodeado pelos seus camaradas, que lhe disse: — Se V. Ex.a vem para tomar parte connosco no Movimento Nacional que vamos iniciar, obedeceremos às ordens de V. Ex.a e teremos o maior orgulho em servir sob o seu comando. Em caso contrário só obedeceremos às ordens do general Gomes da Costa, amigo de V. Ex.a e nosso antigo companheiro da Flandres que já se encontra nesta cidade, para nos comandar. O general Peres vendo que nada conseguia em Infantaria 8 respondeu às palavras do capitão Brito com dois vivas: um à República e outro à Constituição, que só tiveram eco num Viva a Revolução!, soltado pelos oficiais. De Infantaria 8 o general Peres dirigiu-se para a G.N.R., onde não foi melhor acolhido. Recebido pelo major Rodrigues Baptista inquiriu deste se podia contar com forças para se opor aos revolucionários. Foi-lhe respondido que tal era impossível. Então o comandante da Divisão repetiu os seus vivas à República e à Constituição e retirou-se, não para qualquer outro quartel onde igual sorte lhe estava reservada, mas para Valença do Minho, a fim de organizar a resistência aos revolucionários, para o que contava com o apoio incondicional do batalhão de metralhadoras daquele praça, comandado pelo major Severino. Em Infantaria 29, O regimento que foi a «alma-mater» da Revolução, todos estavam tomados pelo mais louco entusiasmo. Às II da noite do dia 27 deram ali entrada os primeiros oficiais revolucionários que passaram logo a ocupar-se dos preparativos bélicos que as circunstâncias impunham. Dentro de pouco a unidade estava completa, com a presença dos capitães João Nunes Sequeira, Frazão, um dos grandes organizadores revolucionários, Júlio Machado e Gonçalves da Silva, e tenentes Monteiro, Leonardo Neves, Diamantino Leite, Paulo, Pacheco, Pernil, etc.... Logo que se concluíram os preparativos foram mandadas sair as tropas que tinham o encargo de ocupar os edifícios públicos e as barreiras, o que se fez na melhor ordem, tendo nesta altura aderido também à Revolução, duas companhias de Infantaria 20 que ali se encontravam. Quanto a Cavalaria II, apesar do seu núcleo de instrução se
(Continua)
Documentos Históricos (16)
A arrancada de 28 de Maio de 1926, por Óscar Paxeco – 1956. Elementos para a história da sua preparação e eclosão.
A Revolução na rua (I de II)
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