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(Continuação)
O tenente-coronel José de Mascarenhas escutou a lealíssima declaração do bravo oficial e respondeu-lhe que o caso não era para ser resolvido de momento, que ia no entanto pensar nele. Que passasse Miguel Bacelar ao outro dia pelo Quartel General. No dia seguinte o comandante de Sapadores, de Santo Tirso, lá estava no gabinete do chefe do Estado-Maior da 3ª Divisão que, ao vê-lo, lhe declarou quase à queima-roupa: — Pensei nas suas declarações de ontem. Estou «feito» consigo e vamos tratar da questão. Desde esse momento o capitão Miguel Bacelar começou a conspirar à vontade, à vista de toda a gente, e à medida que ia conseguindo adesões ia dando conta delas a José de Mascarenhas, que passou a ter como um conspirador e um conspirador magnífico, mercê da situação que ocupava. Uma bela tarde, porém, Miguel Bacelar recebeu no seu quartel de Santo Tirso um telegrama mandando-o ir ao Porto, conferenciar com o Chefe do Estado-Maior. Foi. José de Mascarenhas recebeu-o para lhe dizer: — Participo-lhe que desde este momento está desfeito o acordo entre nós. Vou para ministro da Guerra. Esteve aqui o Álvaro de Castro (*) que me convidou para sobraçar a pasta e eu aceitei. Sigo em breve para Lisboa. O capitão Bacelar disse ao futuro ministro da Guerra tudo quanto entendeu, declarando-lhe que, mesmo com ele no Governo continuaria conspirando e acharia engraçadíssimo se ele, ministro, alguma vez o tivesse que meter na ordem por atitudes em que até ali tinham sido sócios... E como remate lógico de tudo quanto acabava de passar-se, cortou relações pessoais com José de Mascarenhas. De resto este oficial era useiro e vezeiro nestas atitudes. Depois de se ter evadido de S. Julião da Barra onde estava preso como implicado no «18 de Abril», o capitão Jaime Baptista, após algum tempo de esconderijo, em casa de Alberto Tota, na Praia das Maçãs, resolveu voltar à actividade revolucionária e ir ao Porto convidar José de Mascarenhas a coadjuvar o Movimento em preparação. Foi, na companhia de Luís Charteres de Azevedo, e, por intermédio do tenente Couto, conseguiu que ambos fossem recebidos pelo Chefe do Estado-Maior que os ouviu e prometeu coadjuvar a Revolução logo ela eclodisse. Os dois conjurados saíram satisfeitos como é de ver. Horas passadas, porém, recebiam do Chefe do Estado-Maior um recado para abandonarem o Porto, sob pena de serem presos e isto porque ele não coadjuvaria nenhuma revolução em que entrassem monárquicos. A alusão era a Charters de Azevedo. Não ficou por aqui, porém, a acção de José de Mascarenhas. Quando, aí pelas alturas de Abril de 1926, se convenceu de que já era de todo impossível travar a Revolução, foi a Coimbra entender-se com a respectiva guarnição e propor-lhe auxiliar e facilitar o Movimento prestes a eclodir, com a condição de que António Maria da Silva nada sofresse com a vitória dos revolucionários, antes permanecesse no Governo, presidindo à Ditadura que a Revolução viesse a implantar. __________
* Declarações de Miguel Bacelar ao autor. In «Os que arrancaram em 28 de Maio». Deve, porém, tratar-se dum equívoco daquele oficial. José de Mascarenhas só foi Ministro da Guerra no Gabinete presidido pelo Eng. António Maria da Silva que esteve no Poder de 18 de Dezembro de 1925 a 30 de Maio de 1926. Não parece pois crível que tivesse sido Álvaro de Castro que não pertencia nesta altura ao partido de António Maria da Silva, nem com este estava de boas relações políticas, quem convidasse José de Mascarenhas para fazer parte dum Governo retintamente democrático como foi o último ministério dos partidos.
(Continua)
Documentos Históricos (07)
A arrancada de 28 de Maio de 1926, por Óscar Paxeco – 1956. Elementos para a história da sua preparação e eclosão.
… Mas faltava o Chefe para a "arrancada" (II de II).
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