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(Continuação)
Conseguida a adesão, em massa, do Sul do País, desde Setúbal ao Algarve, chegou a marcar-se o dia para o levantamento militar. Nesta data, a fim de acautelar a necessária manutenção das tropas em marcha para Vendas Novas, o tenente Arnedo requisitou para o seu quartel o pão a triplicar. Quando, porém, tudo estava a postos, o coronel Graça recusou-se a comandar a «arrancada» do forte da Ameixoeira, mercê dos poucos elementos — dizia — de que dispunha. E não houve mais remédio senão adiar o Movimento. Continuaram, porém, os trabalhos conspiratórios, tendo em vista a eclosão da Revolução em Setúbal. Mas começou-se, também, a não se obedecer completamente ao plano gizado no forte da Graça. Eram já as várias e inevitáveis intromissões que tantas dificuldades levantariam à preparação do 28 de Maio. Destarte um dia chegou a Setúbal, de automóvel, o antigo oficial Mesquita de Carvalho que acompanhado dum soldado e transportando vário armamento, ia comunicar ao tenente Arnedo a chegada dentro de horas, à cidade do Sado, do general Gomes da Costa disposto a marchar com a guarnição setubalense sobre Vendas Novas. Era um sábado e, por isso, tinham sido licenciadas muitas praças, motivo porque a respectiva guarnição estava bastante desfalcada. A «arrancada» tornava-se, portanto, senão impossível, muito perigosa. Arnedo veio imediatamente a Lisboa ponderar ao general Gomes da Costa, efectivamente já disposto e preparado para seguir a caminho de Setúbal, a dificuldade de, nestas condições, se fazer o quer que fosse, no que o general concordou, sofrendo -a Revolução novo adiamento. Ainda, porém, desta vez se não pôs de parte o projecto de se fazer eclodir a «arrancada» na cidade do Sado, visto só aqui haver quem estivesse disposto a levá-la a cabo. Eis senão quando, a saída do major Holbeche de Freitas, de Vendas Novas, faz com que a E.P.A. se desligue da conspiração. E teve de se cair em novo adiamento para recompor devidamente o plano elaborado. E os trabalhos da conspiração de Setúbal, — chamemos-lhe assim — continuavam com a mesma persistência, o mesmo entusiasmo de sempre, isto enquanto prosseguiam sem qualquer espécie de orientação as várias outras conspirações, algumas das quais eram vagamente «controladas» pelo comandante Mendes Cabeçadas que a certa altura apareceu associado com o dr. José Dias Ferreira, então conhecido pelo «homem do Baú», que muitos diziam estar trabalhando por conta do próprio governo democrático. As desconfianças que este suscitava, acrescidas pelas que o próprio comandante Cabeçadas levantava, dadas as suas conhecidas ligações com os partidos políticos, e principalmente com o sr. Cunha Leal, faziam com que a conspiração não seguisse aquela linha de orientação e homogeneidade, imprescindível condição para a vitória. Em certa altura Mendes Cabeçadas e Dias Ferreira apareceram com um novo plano revolucionário tendo por base e fundamento a G.N.R., então constituída pela fina-flor do partido democrático. Foi neste momento que todos os conspiradores chefiados pelos homens do 18 de Abril, inclusive o general Gomes da Costa, se afastaram por não terem confiança no que se parava. E surgiu o desastre de 19 de Julho, a revolta feita sem nenhumas condições de triunfo, que um fito apenas parecia ter: o da conquista do Poder pelo Poder. Com este novo desastre, toda a preparação séria da Revolução Militar cessou. Mais tarde os chefes do 18 de Abril, já então em liberdade, por absolvidos pelo julgamento da «Sala do Risco», conceberam um novo e então mirífico plano: propor-se-iam a deputados nas eleições que se realizavam em 8 de Novembro de 1925, a fim de no Parlamento fazerem a propaganda que criasse o ambiente propício à Revolução. Dos três, apenas Filomeno da Câmara, que se propôs pela sua terra-natal, Ponta Delgada, foi eleito. Sinel de Cordes e Raul Esteves foram derrotados, o primeiro até por um sargento, candidato do partido democrático. Ante o fracasso deste espantoso e incrível plano, voltou-se de novo, como era de ver, ao único caminho que oferecia algumas possibilidades de êxito: a conspiração, mas já então sem base em Setúbal, em virtude de terem sido transferidos vários oficiais não só nesta cidade, como em Évora, e ainda por Vendas Novas pedra fundamental para a «arrancada» de Setúbal, já não poder colaborar.
(Continua)
Documentos Históricos (03)
A arrancada de 28 de Maio de 1926, por Óscar Paxeco – 1956. Elementos para a história da sua preparação e eclosão.
Quando Setúbal esteve para soltar o grito da «arrancada» - Como aparece pela primeira vez o nome do General Gomes da Costa para Comandante da Revolução (II de II).
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