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(Continuação)
liar o amor inesgotável, total, capaz de todos os perdões e de todos os sacrifícios com essa constante preocupação de criar nos filhos o culto da Mãe, de manter o prestígio que é o mais poderoso factor educativo — essa é a grande maravilha da educação materna. Estar no seu posto, mas exigir que também os filhos estejam no lugar que lhes compete. Que os filhos não se sintam nunca sozinhos, mas que também saibam retribuir o que recebem de companhia e compreensão; habituar os filhos pequeninos a servirem sua mãe, no mesmo alto sentido de serviço que ligava dantes o vassalo ao senhor: com gentilezas e atenções que vão desde a flor oferecida até à renúncia a uns momentos de brinquedo, consagrados antes a acompanhá-la; habituar os filhos a servirem sua mãe como os cavaleiros medievais serviam as suas damas, combatendo por elas, ganhando por amor delas glória e fama. Assim as horas de estudo, os pequenos trabalhos manuais, as boas notas e as boas acções serão outros tantos preitos rendidos pelo filho a sua mãe. Habituá-los, antes da idade em que outros motivos podem já movê-los, a fazerem tudo pela mãe, para lhe dar alegria, para lhe prestar homenagem. Esse jeito adquirido na infância fica pela vida fora. E nos momentos terríveis em que as crenças e os ideais soçobram no homem, acontece muitas vezes que a única força que resiste, a única estrela firme que lhe permite voltar a encontrar o bom caminho é o amor ou a memória de sua mãe. Haja portanto nas mães a coragem de não ceder a uma fraqueza sentimental, a coragem de não dar apenas, mas de exigir também em troca. Mas, num tempo em que a mocidade reclama tão insistentemente a sua independência, é necessário proceder com habilidade e tacto. Por mais sólido e perfeito que seja o lar, por melhores que sejam as relações entre pais e filhos, há sempre os perigos de fora que não podem ser esquecidos. Chega muitas vezes o momento em que os filhos educados na mais doce obediência, costumados, por exemplo, a formarem com os pais e os irmãos um bloco unido e firme, começam a desejar, como eles dizem, viver sua vida, determinar sozinhos o seu caminho, dispor do seu tempo sem obrigação de o partilhar com a família. Chega o momento em que as filhas que tinham na sua mãe a melhor amiga, a companheira ideal para as festas e os passeios, começam a envergonhar-se de aparecerem acompanhadas e, embora continuem a estimar e a apreciar por si próprias a presença da mãe, preferem no entanto, por respeito humano, passar sem ela. É um momento doloroso e inquietante aquele em que a mãe descobre que as paredes da casa São acanhadas de mais para os filhos, que os seus braços se tornaram estreitos para os envolver. Aí se lhe exige toda a generosidade, todo o bom senso, toda a delicadeza unida à firmeza. Muitas vezes, no entanto, não chega a haver conflito autêntico. Se os filhos são bem formados, se têm uma forte consciência cristã, um sentido verdadeiro de amor e dever filial, depressa vencerão essa crise de independência que não é mais do que o reflexo da sua época. Só são graves as crises de independência dos filhos, quando têm por detrás um ressentimento ou uma amargura, que em geral deriva da falta de atenção e companhia dos pais. Sempre os jovens se julgaram incompreendidos dos mais velhos. Mas hoje mais do que nunca os filhos queixam-se de que se sentem sós. E sós, por vezes, de uma solidão que não é apenas moral (porque
(Continua)
O Problema da Educação (39)
Reflexões sobre o papel da mãe no mundo moderno, por Ester de Lemos - 1960
Estas palavras foram lidas pela primeira vez, a convite da Organização das Mães pela Educação Nacional (O. M. E. N.), durante as comemorações da semana da mãe, em 13 de Dezembro de 1959, no salão de festas do Liceu Maria Amália Vaz de Carvalho. E repetidas, a convite da M. P. F., no Teatro do Palácio Foz, em 10 de Fevereiro de 1960.
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