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Ao Estoril [Franco Nogueira], trabalhar com o Presidente do Conselho. Mostrou-me uma carta que escreveu a Strauss, ministro da Defesa da Alemanha: reafirma a política portuguesa em África e reitera a certeza de que Bona continuará a apoiar uma orientação vital para o Ocidente. Depois, Salazar diz-me textualmente, aludindo à política interna: «Há para aí umas conversas, umas conspirações com Botelho Moniz, Craveiro Lopes, ainda outros. Sem importância. Querem que me vá embora. É o que todos dizem: que estou velho, que estou no fim, que estou ultrapassado. Farto-me de ouvir a União Nacional, e é sempre a conclusão a que chego». Observo que há muito Salazar não se dirige à opinião pública interna. Explica: - «Sim, é verdade. E sabe porquê? Porque adquiri tal asco à política interna, repugna-me de tal forma, que não tenho coragem para isso». Eu insisto em que deve dirigir-se aos portugueses, até porque, se houver de ser feita uma viragem, ou uma reformulação da política ultramarina, ele é a única pessoa em condições de o fazer, dentro da lei e da ordem. - «Não creio que tenhamos de o fazer. Não era nenhuma catástrofe a minha partida. Mas se essa viragem tiver de ser feita, outro que a faça. Terá é de cavar o seu crédito político como eu o fiz. E uma coisa é certa: não quero morrer nestas funções. A não ser que me dêem um tiro e me matem. Fora disso, quero sair antes de morrer». Disse-lhe que não podia fazer isso: tendo conduzido o país para uma política, só poderia abandonar o governo pela vitória dessa política, ou por morte – e essa vitória não está à vista, nem a morte tão pouco, esperava eu. Conclui Salazar: «Não, não quero morrer nestas funções».
SALAZAR - testemunhos... (25)
Lisboa, 26 de Julho de 1962 – Diário de Franco Nogueira, «Um político confessa-se» Consultar todos os textos »»
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