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«Bernardino Machado, Presidente da República Portuguesa, veio visitar-me. — Conduzi-o a Verdun... Fala-me com amor do seu País, do Império Ultramarino Português...». (Presidente Raymond Poincaré, Au service de la France. L’année trouble, Paris, 1932, p. 312).
Quando, na década de 60, outros interesses estrangeiros fomentaram o assalto ao ultramar português, Oliveira Salazar defendeu a integridade nacional e (decerto recordando D. Carlos e Afonso Costa e Norton de Matos) costumava lembrar que sempre tinham considerado de seu dever fazê-lo todos os responsáveis nacionais, na Monarquia e na República. Muitas vezes o antigo Presidente do Conselho ouviu discorrer, perante si, acerca de outros caminhos teoricamente possíveis para os problemas que se depararam ao País. E, no seu inegável e lúcido realismo, na terrível previsão de quem sabia prever, algumas vezes rematava assim as discussões: — «Com a soberania, tudo se perde.» Salazar vira e ponderara necessidades e erros velhos: promovera, pacientemente, meios de valer-lhes. Saneara a vida administrativa e financeira, promovera o fomento económico, vira crescer a ritmo novo o progresso do Ultramar. Por duas vezes passara, ele próprio, pela gerência interina da pasta das Colónias, cujos problemas sempre acompanhara de perto, e confiara a homens de prestígio, em sucessivos Ministérios seus: com Armindo Monteiro, Ferreira Bossa, Vieira Machado, Marcello Caetano, Teófilo Duarte e Sarmento Rodrigues. Depois, regressado o Ministério à designação tradicional — do Ultramar — trabalhara com Raul Ventura. Agora, fora pelos olhos experientes de Lopes Alves que Salazar vira na sua expressão correcta, os primeiros golpes do assalto às Províncias de África. E quando o Ministro entendeu que a saúde já não lhe permitiria continuar, o Presidente recorreu à juventude, frontalidade e lucidez de Adriano Moreira, como depois havia de apoiar-se no mérito e experiência ultramarina de Peixoto Correia e Silva Cunha.
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«Não se trata do problema de autonomia ou independência de territórios em sujeição; trata-se apenas e exclusivamente de exterminar os Europeus no caso de não resolverem voluntariamente abandonar o Continente. Não se trata dos direitos do homem africano, mesmo que tais direitos tivessem em vista o homem negro. Trata-se de substituir as soberanias, e de sujeitar a interesses bem conhecidos todos os povos da área.» (Adriano Moreira, em 13-4 -61).
As corajosas e lúcidas palavras que aqui se reproduzem são do discurso de posse do novo Ministro e vêm na linha exacta do pensamento de Salazar. Estava, então, de Governador Geral em Angola, um homem grande do Ultramar — o Conselheiro Silva Tavares. Ele fora Secretário-Geral do Estado da Índia, Governador da Guiné e Secretário de Estado da Administração Ultramarina. No seu notável depoimento para o livro Salazar visto pelos seus próximos, recorda Silva Tavares como em 1959, em reunião do Conselho Superior de Defesa Nacional, ainda o Ministro da Defesa Botelho Moniz defendera a tese de que as guerras se ganham no teatro principal de operações e que esse seria na Europa, visto a luta ser entre o Ocidente e o Oriente. E Salazar encerrara a reunião com estas palavras: «Tudo será como os senhores dizem, mas se houver uma guerra na Europa e o esforço do inimigo incidir sobre o sector guarnecido pela tropa portuguesa, toda a nossa juventude poderá ser aniquilada. Por outro lado, o certo é que vamos ter uma guerra no Ultramar e que ela será de guerrilha. Para isso temos de estar preparados.»
Com o apoio de Salazar e Lopes Alves, o novo Governador Geral agira com coragem, em todos os campos onde urgia fazê-lo para se enfrentar a guerrilha que Salazar previra; erguera mesmo medidas ousadas no campo económico e social, seguro de que o ataque teria de encontrar, unidos, portugueses de todas as raças.
POLÍTICA ULTRAMARINA (16)
SALAZAR – Memórias para um perfil, de José Paulo Rodrigues (subsecretário de Estado da Presidência do Conselho de 1962 a 1968), pág. 155 e 159. Consultar todos os textos »»
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