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(Continuação)
Atingido um certo grau de prosperidade financeira, a acção do Governo logo se traduziu em múltiplos benefícios. Vimos realizadas obras que julgávamos impossível que se pudessem levar a cabo em nossas vidas. Assistimos à reparação das estradas, à restauração dos nossos principais monumentos históricos, à construção de tantos novos e esplêndidos edifícios, à execução de obras monumentais e a tantos outros progressos materiais que é escusado enumerar. A obra colossal prosseguiu e prossegue com um método admirável. Presenciamos agora a construção em larga escala de escolas primárias, de que o país carecia há dezenas de anos, a abertura de instalações condignas dos nossos serviços postais, uma verdadeira profusão de melhoramentos locais. Todo esse belo conjunto mudou verdadeiramente o aspecto do país e fez subir as suas condições de produção. Não menos notável foi a melhoria do nível de vida das classes trabalhadoras. Decerto elas não foram sujeitas para isso à tirania despótica e sombria dos que se dizem seus representantes e defensores. Dentro da felicidade independente da sua vida individual e doméstica receberam mais altas remunerações e numerosas garantias, entre as quais avulta a segurança da reforma para os velhos e inválidos, para que, nesta hora feliz, estamos caminhando abertamente. Creio que em nenhum período da nossa história se fez tanto em tão pouco tempo em favor dos que trabalham. E tudo se conseguiu sem as violências que arruínam os seus autores e o país, sem atritos pessoais, apenas com as hesitações inerentes a uma política nova que pouco a pouco se dissipam. A obra material completou-se com a obra de aperfeiçoamento moral. Procurou-se imprimir à administração um cunho de honestidade, que de certo modo reflecte as virtudes pessoais de quem a ela superiormente preside. Houve da parte de muitos serventuários do Estado um desejo sincero de colaborar, de contribuir para o progresso da Nação, um entusiasmo sincero que lhes fez esquecer até a modéstia das suas remunerações. A acção religiosa pode expandir-se livremente, disseminando os seus ensinamentos de alta moralização e restituindo ao seu pendor natural a alma nacional, católica por essência. Como sempre, o factor material influiu no factor moral. Passámos a ter um maior orgulho nacional, começámos a honrar-nos com a nossa qualidade de portugueses e a sentirmos os deveres que nos impunha a nossa ligação a uma Pátria, que já se não envergonhava de si própria. Restaurado o país internamente, no seu aspecto material e moral, passou a gozar externamente de legítima consideração. Para o campo externo derivou o Dr. Salazar a sua atenção num período de graves dificuldades e perigos, que o país teve de atravessar. Poupou-nos, é certo, a Providência. Mas não podemos deixar de encarecer a acção devotada do então Ministro dos Negócios Estrangeiros, a sua solicitude constante, o seu árduo esforço durante anos, a sua permanente inquietação, para conseguir salvar a Pátria do torvelinho fatal, em que foram precipitados e dilacerados quase todos os países da Europa. O êxito coroou tão desvelado esforço e o país saiu do conflito mundial, em que teve a felicidade de não tomar parte, acreditado em todo o mundo, gozando da consideração geral, respeitado por todos e mesmo atraente para os seus visitantes, que nele se sentem encantados. No campo do turismo quase se pode dizer que Portugal está à moda. Podemos enfileirar hoje com altivez e dignidade no areópago das nações, sabedores do que valemos e conscientes dos nossos sentimentos de ordem e de paz, que podem servir de exemplo a tantos países. Há, na consciência de todos os portugueses, não dementados por falsas paixões políticas, o reconhecimento destas verdades. Praticamos a frase de Vinet: «aceitar uma autoridade é um acto de liberdade». E vemos, em múltiplos aspectos, os resultados do engrandecimento nacional. Vinte anos de persistente esforço levaram a esse triunfo magnífico. Em todos nós parece nascer uma noção nova da Pátria, que nos orgulha e nos incita a novos e desvelados esforços. A propósito de Napoleão escreveu Taine: «Quando se quer explicar uma construção, é preciso ter em vista as suas circunstâncias, quer dizer as dificuldades e os meios, a espécie e a qualidade dos materiais disponíveis, o momento, a ocasião, a urgência; mas importa ainda mais considerar o génio e o gosto do arquitecto, principalmente se ele é o proprietário, se constrói para ele habitar, se, uma vez instalado, apropria cuidadosamente a casa ao seu modo de viver, às suas necessidades e ao seu serviço». Assim, entre nós, a construção grandiosa de Portugal contemporâneo foi obra portentosa dum homem, que vive retirado e quase invisível, na modéstia do seu teor de existência, sentinela vigilante dos destinos da nação. Venceu todas as dificuldades, das quais houve algumas externas verdadeiramente temerosas, e a todos os seus concidadãos permitiu gozar da sua obra magnífica. Salazar foi talvez um dos que menos lucraram com ela, nem ao menos granjeando maior descanso, pois em toda a sua vida continua o mesmo portentoso esforço. Para esse homem, que imolou a bem da Pátria todos os prazeres da existência, que na sua vida quase ascética teve tantas horas de amarga ansiedade e tão poucas de felicidade, deve ir a nossa gratidão sincera de portugueses. Ele é já, sem dúvida, uma grande figura histórica, mas nem carecemos de esperar pelo testemunho remoto dos futuros historiadores. As proporções dessa figura têm a dimensão bastante para que ela seja apreciada e louvada pelos seus contemporâneos. Bem justo é que todos se unam numa calorosa homenagem ao grande chefe que a Providência lhes deu, a esse homem insigne entre os maiores, ao Doutor Oliveira Salazar!
(Fim)
SALAZAR - testemunhos... (18)
Discurso proferido por Rui Ulrich, professor catedrático e Director da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, da Academia de Ciências de Lisboa, por altura do XX aniversário da entrada do Prof. Salazar no governo. Abril 1948. Consultar todos os textos »»
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