25 de abril de 2024   
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Senhor Presidente da União Nacional
Minhas Senhoras
Meus Senhores

Fui convidado pelo Exmo. Sr. Governador Civil do Porto e por delegados da União Nacional para vir dizer algumas palavras nesta sessão, tão brilhante pelo quadro em que se realiza como ilustre pela assistência que a ela concorreu.
A distinção que representava o convite que eu recebi e que em certo modo emanava da cidade do Porto, que eu tanto respeito e considero, não me permitia uma recusa.
Perguntei, porém, a mim próprio a que devia a honra de tão penhorante instância. Não a podia atribuir, certamente, a qualidades pessoais que não possuo e cuja falta tanto me faz recear que eu deslustre com a minha palavra obscura o esplendor desta sessão. Só uma explicação encontrei para a inesperada lembrança do meu nome. Não devo ao actual regime político nem favores nem benesses, antes dele só me resultaram dissabores e prejuízos. Esta circunstância dava às minhas palavras sem relevo maior autoridade, porque elas podiam ser proferidas com perfeita isenção.
Assim, no pouco que vou dizer, não se conterão louvores fáceis, como tantas vezes têm sido dirigidos à alta figura do Senhor Presidente do Conselho. Farei apenas um depoimento sincero, vindo de quem infelizmente já viveu bastante para conhecer várias situações políticas no país: a monarquia na generosa e malograda tentativa do meu grande amigo e chefe político, o Conselheiro João Franco Castelo Branco; a monarquia no período lamentável e torvo da acalmação e da fraqueza desordenada dos seus últimos anos, em que os homens nada tinham aprendido com a lição cruel de 1908; a república que anulou o nosso prestígio externo e a nossa paz interna; e, finalmente, a extraordinária ressurreição do país nestes últimos vinte anos!
Essa obra de extraordinária e quase inconcebível restauração nacional deve-se principalmente a um homem de Estado dotado das mais raras qualidades, a Sua Excelência o Senhor Doutor António de Oliveira Salazar.
Se considerarmos o homem na sua individualidade própria, encontraremos uma inteligência manifestamente superior, tão viva como profunda, animada por dotes de invulgar ponderação e do mais hábil senso político. Homem de inexcedível honestidade e desprendimento, combina na sua poderosa mentalidade a mais estrita seriedade, atestada em toda a modéstia da sua existência, com uma compreensão e intuição perfeita das conveniências subtis do governo de um povo. Isolado, porventura em demasia, o que num país como o nosso só tem robustecido a sua autoridade, é, no seu raro convívio, afável e atraente, mostrando interessar-se por tudo o que lhe expõe o seu interlocutor. Por mais precioso que seja o seu tempo, ele não regateia a sua atenção a qualquer assunto de interesse que lhe seja exposto.
Não quero elogiar a classe dos professores, porque a ela me honro de pertencer. Mas, porque tenho distraído para muitos capítulos diversos a minha actividade e estive muitos anos fora do ensino, posso considerar objectivamente os méritos e os defeitos dessa classe. Por isso ouso afirmar que o Doutor Oliveira Salazar tem mantido na sua obra de estadista o mesmo rigor lógico, o mesmo método cuidado, a mesma averiguação porfiada que informaram a sua obra didáctica. Procede, na solução dos problemas da governação, com a mesma autoridade científica e o mesmo critério inteligente com que ensinava aos seus discípulos as matérias bem mais fáceis das finanças ou da economia política.
Pois bem, essa mentalidade superior foi posta inteira e dedicadamente ao serviço da Nação. Esse homem, que há vinte anos trabalha sem cessar, quase sem um dia de férias, impondo-se uma tarefa que por vezes tem vencido a sua resistência física, pôs todas as faculdades com que a Natureza o privilegiou ao dispor da sua Pátria. Patriota inexcedível, orgulhoso do país que representa e simboliza, ele conseguiu à custa do sacrifício próprio enaltecer Portugal!
Só os historiadores futuros poderão marcar devidamente a grandeza da sua obra, mas uma perspectiva de 20 anos já permite aos contemporâneos fazer apreciações com menos receio de errar. Não nos exalçaremos talvez ainda ao nível rigoroso da visão histórica, mas temos já dados suficientes para tentar uma crítica segura e justa.
Salazar recebeu nas suas mãos um país desmantelado. Desacreditado no exterior, onde quase nos envergonhávamos da nossa nacionalidade, quando ouvíamos os remoques acerbos ou as ironias fáceis acerca da nossa desordem e das nossas crónicas revoluções. Desorganizado no interior por uma administração caótica, que amontoava os deficits orçamentais e recorria, para os cobrir, ao processo simplista da inflação fiduciária. Desmembrado nas consciências, onde a inábil e injusta perseguição religiosa privava o povo dos elementos indispensáveis de uma sã moral, sem lograr substituí-los por qualquer outra regra de conduta. Incapaz no Governo, cuja impotência se revelava em clamorosos escândalos, como os dos transportes marítimos ou dos bairros sociais.
Com uma notável serenidade, confiado na sua acção — para não dizer na sua estrela — Salazar empunhou há vinte anos as rédeas do poder, porque já a sua actuação como Ministro das Finanças foi quase tão dominadora como a que pôde exercer depois de investido na Presidência do Conselho. E, pouco a pouco, foi concertando, com rara persistência, com inquebrantável energia, as molas desconjuntadas do velho organismo nacional.
Veio primeiro a parte financeira, pois o perene desequilíbrio orçamental era o cancro que acima de tudo comprometia o nosso equilíbrio social. Talvez hoje a questão financeira não tenha a mesma importância decisiva, pois já se admite o predomínio da política social com todas as suas exigências sobre o dogma da boa arrumação das receitas e despesas. Mas esta constituía, há 20 anos, sem dúvida, o problema máximo, a base indispensável do restabelecimento do país.
Não venho aqui citar cifras, nem reproduzir o que de todos é conhecido. Os saldos orçamentais seguiram-se e acumularam-se num país onde a extinção do deficit era olhada como um mito da fábula. Tais saldos foram a condição primeira para permitirem ao Estado a realização do seu vastíssimo programa de melhoramentos materiais, cuja execução todos temos visto.
Facto digno de registo: — não costumam ser populares os Ministros das Finanças, mormente quando eles exigem das populações sacrifícios necessários. A política do saneamento financeiro exigiu entre nós, como sempre sucede, sucessivos agravamentos tributários. Mas o país aceitou essa provação, mesmo quando ainda não havia a certeza de que os frutos da política seguida pudessem ser profícuos, pois não tinham tido tempo de se manifestar. Obedeceu e correspondeu às reclamações do seu chefe, levado pela confiança quase instintiva que ele lhe inspirava, reconhecendo antecipadamente que, como numa ocasião me disse o Sr. Presidente do Conselho, o dinheiro nas mãos do Estado é por vezes mais útil para os indivíduos do que conservado nas mãos deles próprios. Ao lado da glória do chefe eminente, é sempre justo relembrar o apoio do país, que, sem murmurar, o seguiu e auxiliou.

(Continua)

SALAZAR - testemunhos... (17)

Discurso proferido por Rui Ulrich, professor catedrático e Director da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, da Academia de Ciências de Lisboa, por altura do XX aniversário da entrada do Prof. Salazar no governo. Abril 1948.

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Música de fundo: "PILGRIM'S CHORUS", from "TANNHÄUSER OPERA", Author RICHARD WAGNER
«Salazar - O Obreiro da Pátria» - Marca Nacional (registada) nº 484579
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