21 de novembro de 2024   
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(Continuação)

E essa vida e essa acção — acrescentarei ainda — desenvolveram-se tanto, através de vinte anos de vida portuguesa, e atingiram, sobretudo durante e depois da Guerra, tais projecções no plano europeu e internacional, consubstanciando-se a tal ponto com certo património de interesses e valores espirituais da Civilização ocidental, que hoje, ao cabo desses vinte anos, o conceito e a palavra de «político», «política», já não são suficientes para conter e exprimir toda a realidade histórica que elas constituem. Trata-se não já de simples política, mas de uma autêntica forma da vida portuguesa.
Dito de outra maneira: hoje, ser-se pró ou contra Salazar, pura e simplesmente, não é apenas o mesmo que ser a favor ou contra determinado credo ou sistema de ideias políticas. É o mesmo que ser a favor ou contra uma certa, profunda e complexíssima realidade nacional, cuja amputação violenta, se alguém a tentasse, seria necessariamente — não duvido afirmá-lo — não simples mudança de regime, mas verdadeira crise, com perigo de morte, para a existência da Pátria.
Os seus vinte anos de governo não terão nunca passado em vão, e muito da sua obra, seja qual for o destino desta em conjunto, ter-se-á consubstanciado com a história da Nação, se ela persistir e houver de viver para além da crise actual. Certamente, Salazar não é um terminus nem um valor absoluto. Mas foi até agora, e é ainda neste momento, uma étape transcendente na história nacional e europeia.
Isto quer dizer que aqueles que o quiserem corrigir e ultrapassar, indo de certo modo contra ele, terão ainda, em muita coisa, de ir com ele para além dele. É este, sabe-se, o significado e o segredo da perdurabilidade das grandes figuras históricas, mesmo quando praticaram grandíssimos erros.
E ao reconhecimento de tudo isto que acabo de dizer, Senhores, não chamo eu «política». Chamo-lhe «sentimento histórico». É como se eu — perdoe-se-me a imodéstia — estivesse apreciando Salazar a meio século de distância daqui, já no futuro.
Se o grande homem público, cujo aniversário hoje se celebra, se perfila para nós neste plano, não meramente político, mas eminentemente nacional, e se a minha visão não é errada, então devem calar-se neste momento todas as nossas reservas e críticas, discordâncias e ressentimentos de algum dia, que a sua obra de estadista nos possa provocar, para deixar que se produza no nosso espírito, e bem assim nas nossas almas, em homenagem a ele, ao grande prisioneiro de si mesmo e da sua obra, um sentimento do mais profundo respeito.
Perante os homens da sua estatura, na vida dos povos, não são os erros e fracassos acidentais da sua acção governativa, nem o que pode haver de imperfeito e inacabado na parte melhor da sua obra, que devem dar-nos a pedra de toque para nós definitivamente os julgarmos, mas sim o espírito e alta intenção que os animam, e bem assim as grandes resultantes do seu esforço e a projecção dessas mesmas resultantes sobre elevados complexos de bens e de valores.
Se a Ética que norteia a acção dos governos não coincide de todo o ponto, como creio, com a nossa Ética individual, também as nossas tábuas de valores para julgarmos os homens públicos deste quilate e grandeza não podem ser as da vida vulgar, nem a nossa crítica a respeito deles recair mais naquilo que eles possam ter de negativo do que naquilo que têm de positivo: como se os devêssemos julgar mais pelo que não fizeram e podiam ter feito, do que pelo muito que fizeram e está aí, bem patente, aos olhos de todos.
É quanto me basta, Senhores, para, mesmo sem eu ser político no sentido mais comezinho da palavra, como disse no princípio, todavia poder prestar ao Sr. Dr. Oliveira Salazar, com inteira consciência, em nome da Faculdade e no meu, como cidadão português e europeu, sobrevivente numa Europa em escombros, todo o preito de uma sincera homenagem.
Meus Senhores! Salazar soube pôr Portugal a salvo dos horrores da mais estúpida e da mais feroz de todas as guerras da história! O nosso país foi sob o seu governo, o oásis da Europa e a terra bendita de promissão e de refúgio para todos aqueles que, durante cinco anos, viram as suas pátrias devastadas e os seus lares subvertidos na voragem de todos os cataclismos!
Salazar soube, depois disso, manter e levantar perante o estrangeiro, a alturas que havia séculos se não viam, o crédito material e moral da Nação!
E soube ainda, por fim, criar para o país a situação digníssima de este poder representar, no meio de um mundo esfrangalhado e enlouquecido, um dos poucos fulcros de resistência moral e espiritual, de refrigerante bom senso, que hoje há na Europa do Ocidente contra a barbárie comunista.
Será isto que digo Propaganda?
Se esta pode também ser feita, às vezes, com verdades, é-o, sem dúvida. Se é lícito, politicamente, fazê-la, tantas vezes, com mentiras, porque não há-de ser lícito fazê-la, moralmente, ao menos uma vez, com verdades insofismáveis?
Certamente, nada do que acabo de dizer é o bastante, bem sei, para devermos necessariamente concordar com todas as ideias e actuações do Sr. Presidente do Conselho em matéria de orgânica do Estado, de formas do governo ou de organização da vida económica. Nem todos estarão de acordo com tudo.
Mas será o bastante, creio bem, para, como portugueses e europeus do Ocidente, repito, todos lhe sermos imensamente gratos, e ainda para, como cristãos, podermos e devermos pedir a Deus neste dia, com fervor, que lhe conceda uma longa vida, para bem da Nação.

Tenho dito!

SALAZAR - testemunhos... (09)

A Obra de Salazar à luz do sentimento histórico da sua época - por Luís Cabral de Moncada, Professor Catedrático da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra - 28 de Abril de 1948

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Música de fundo: "PILGRIM'S CHORUS", from "TANNHÄUSER OPERA", Author RICHARD WAGNER
«Salazar - O Obreiro da Pátria» - Marca Nacional (registada) nº 484579
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