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O abatimento e decadência do País, o cansaço das lutas políticas, os sucessivos movimentos que revelavam ou estado de insatisfação permanente ou desordem endémica na sociedade portuguesa, a carência da autoridade, a insuficiência da administração, a urgência de solução de muitos problemas, o apoio ostensivo da força armada, tudo se tinha conjugado para tornar possível e querida da generalidade dos cidadãos a acalmia, um período longo de trabalho intenso, de verdadeiro governo do país desgovernado que éramos. Daqui a actividade febril que fez desta época uma das mais férteis em realizações de toda a história portuguesa — actividade salvadora, exclusivamente prosseguida no terreno nacional, mas bastante desacompanhada de acção política correspondente à sua importância e dificuldade. Era óptimo, se os homens fossem diferentes; não o tem sido por serem como são. E no entanto não havia dúvidas, nem ainda hoje as há, acerca da finalidade da Revolução Nacional, cujo movimento, se alguém pensou poder limitar-se a uma grande arrumação administrativa, cedo deu lugar à convicção de que esta mesma não poderia ficar assegurada sem a reforma política. E temos de confessar que, por demasiadamente absorvidos em resolver problemas, alguns dos quais foram, sem resultado, programa de todos os governos anteriores e aspiração de muitas gerações, não se deu ao trabalho de doutrinação política, de organização e formação da consciência pública aquela atenção que merecia. Posso dizê-lo porque devo considerar-me um dos principais responsáveis.
O Problema da Educação (30)
(«Governo e política» - Discurso à União Nacional, em 4 de Março – «Discursos», Vol. IV, págs. 275-276) - 1947 Consultar todos os textos »»
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