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(Continuação)
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À luz da firmeza dos princípios e da rectidão de consciência, comandava cada acto desse homem o seu lúcido critério, encontrando, sem esforço aparente, o caminho do maior bem atingível ou do menor de males inevitáveis: «Virtus est ordo amoris». Brotando naturalmente nele o dever de procurar decidir bem, a própria formação jurídica vincava o seu rigoroso exercício. O alicerce do seu mestrado político chamava-se critério Foi este o primeiro traço do perfil de Salazar que me deslumbrou. Logo nos primeiros tempos do meu trabalho com o Presidente, ao recordar os ensinamentos do despacho de certo dia, apontei as notas sob o título «Aula prática de Balmes». É que eu lera, quando estudante, a conselho de um dos homens mais santos e esclarecidos com quem pude lidar — o Padre Dr. José Gracias — o grande pequeno livro de Jaime Balmes, intitulado Critério. Poucos livros me haviam impressionado tanto como aquela luminosa e segura exposição acerca do cumprimento correcto, pelos católicos, dos seus deveres de consciência. Pois, naquela manhã em que o Doutor Salazar perante mim, quisera pensar em voz alta sobre problemas difíceis, cujo melindre punha à prova a justa ordenação de vários deveres, eu ouvira preconizar, com serena humildade e segura ortodoxia, regras do bom critério enunciadas por Jaime Balmes — teólogo, filósofo, polemista e, também, ensaísta político da primeira metade do século XIX. O trabalho com Salazar não era, apenas, aula prática de bom e justo critério, a definir as opções tomadas. Era, também, privilégio de conhecer as raízes da indomável coragem que punha na sua execução. A firmeza com que prosseguia os rumos assentes foi patente a muitos, o trabalho árduo de longo e escrupuloso estudo das razões em que se firmavam, conhecemo-lo alguns. Na ociosidade da sua longa vida de governante, estudava e fazia «estudar na dúvida», detidamente, os problemas, ponderava todos os frutos previsíveis de eventual opção por cada uma das soluções possíveis. Depois marcava, sem detença, o rumo a prosseguir para se «realizar com fé».
(Continua)
SALAZAR - testemunhos... (02)
SERVIR – Capítulo II do livro do Dr. José Paulo Rodrigues (subsecretário de Estado da Presidência do Conselho de 1962 a 1968), "Salazar – Memórias para um Perfil" – 2ª edição, pág. 19 a 20 Consultar todos os textos »»
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