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O EXÉRCITO
— Pensa que o Exército está hoje unido como em 28 de Maio? Resposta imediata: — Estou convencido de que está! Tenho a certeza de que está! Vou por outro caminho: — Mas como interpretar certos equívocos, certos mal entendidos? E o Sr. Presidente, com saudável optimismo, explicando-me o que eu próprio sinto: — É preciso não dar excessiva importância a todos os boatos que nos chegam aos ouvidos. Conversa, palratório, má-língua que não passa da língua, que não passa da epiderme. Os portugueses foram sempre assim: gostam de beliscar e de criticar os seus próprios chefes, aqueles que mais admiram, mas quando é preciso acodem todos à chamada e são dedicados até à morte. A má-língua é um passatempo, um desporto como qualquer outro, sem consequências graves... Conheci um capitão, que julgo já falecido, cumpridor e dedicado ao serviço como poucos. Mas tinha a mania da «boa resposta». O rei D. Carlos quis ir um dia a Beja para visitar umas determinadas obras. Como essas obras demoravam, mandou-se perguntar a este capitão, que as dirigia, em que altura estavam. Resposta do nosso capitão: «Está-se nas tintas...». E, entretanto, não havia oficial mais dedicado aos seus superiores... Não defendo a sua incorrecção, que lhe prova, em todo o caso, isto: o que se diz nem sempre está em relação com o que se sente... Este oficial era o mesmo que tinha esta pergunta sacramental quando visitava qualquer unidade: «Então como vai por cá essa intrigazinha. . . » Como vê, defeitos insignificantes da raça, que não têm importância se não os avolumarem, se não os tomarem demasiado a sério... É claro que o Exército está unido. Porque não havia de estar? Nem eu estaria aqui, se tal não acontecesse! Para bandeira deste ou daquele grupo é que não sirvo, é que não quero servir!
Documentos Políticos (13)
António Ferro no decorrer da entrevista, com o Presidente Carmona, 1934. Edição SPN Lisboa, pág. 22 a 23 Consultar todos os textos »»
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