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O sonho que sonhámos da transformação material do País, em mais dez ou quinze anos, se a situação internacional não paralisasse os nossos esforços e o trabalho nacional, não pode já ser realizado sob o impulso do seu dinamismo, da sua intensa felicidade de criar, do seu poder de resolução, da sua vontade de aço, e não sabemos mesmo em quanto esta morte o terá prejudicado. Tinha-se bem nítida a consciência do atraso que era preciso vencer num país onde a velocidade ainda perturba e os meios são escassos para economizar anos. Mas dessa reposição de Portugal no seu tempo, sob o aspecto material das comunicações, da urbanização das cidades e vilas, da instalação e funcionamento dos serviços, da reparação do património artístico, do lar com higiene e beleza, da elevação da vida rural, esperava-se a transformação do meio e decisiva influência na nossa vida colectiva. Essa obra de optimismo transbordante, que comprovava a capacidade de realização e as possibilidades artísticas e técnicas ainda ao nosso dispor, deveria exercer influência revolucionária nas ideias feitas, na imitação servil, no acanhamento e pusilanimidade correntes, na triste conformidade do grande número — isto é, esperava-se dela poderosa acção estimulante e educativa. Muito grande nos seus fundamentos e no seu lineamento geral, esta obra não pode, no entanto, ser acusada de excessiva e desproporcionada. Sem dúvida ela ultrapassa os hábitos e o momento, mas não excede Portugal: o Ministro tinha o raro condão de adaptar a grandeza da concepção às proporções do País. Construir para um século era a divisa, porque, paradoxalmente, uma nação modesta não pode construir só para vinte anos; a excessiva e documentada duração do provisório ensinava-nos que tudo devia ser definitivo.
O Problema da Educação (29)
(«Na morte de Duarte Pacheco» - Discurso pronunciado na Assembleia Nacional, em 25 de Novembro - «Discursos», Vol. IV, págs. 24-26) - 1943 Consultar todos os textos »»
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