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..:. TEXTOS
CONTINUIDADE GOVERNATIVA
— Tinham razão os portugueses que levaram o Sr. Presidente ao lugar onde está. Não se tem arrependido o País — bem pelo contrário! — da longa e feliz permanência do Sr. General Carmona no mais alto cargo da Nação. Essa continuidade trouxe, por sua vez, a continuidade governativa e essa tem sido, quanto a mim, o segredo da situação...
O Sr. General Carmona confirma com vivacidade:
— Evidentemente! Sem continuidade governativa não há obra que resista, que chegue ao fim. Tenho defendido essa continuidade e continuarei a defendê-la porque a julgo essencial à vida do regime, do Estado Novo. As primeiras experiencias dum Governo são sempre hesitantes, desorientadas. Há que dar tempo ao tempo e deixar os ministros assenhorearem-se dos negócios das suas pastas. É preciso perdoar-lhes os primeiros erros cometidos, algumas ingenuidades em que os façam cair. Não se pode semear sem se conhecer bem o terreno que se pisa... Um Governo que caia ao fim de seis meses, ou mesmo ao fim dum ano, não se pode dizer que tenha falhado, porque a verdade é que não chegou a governar...
Insisto:
— Não se tem arrependido, portanto, da confiança que tem dado, por exemplo, ao actual Governo em cuja obra se demonstram, precisamente, as vantagens dessa continuidade...
E o Sr. General Carmona:
— Arrependido?! Se o senhor soubesse o que eu tenho lutado para que essa continuidade não se parta... Ela é indispensável à vida e ao progresso da Nação e do Estado Novo. Sabe qual foi o único período próspero da marinha portuguesa antes do nosso e depois do período dos descobrimentos? Aqueles vinte anos em que Martinho de Melo e Castro foi ministro da Marinha... É claro que a continuidade tem um limite, o limite da fadiga. Mas esse limite faz-se logo sentir no afrouxamento da obra, numa quebra de ritmo que felizmente ainda nem sequer se anuncia...
Documentos Políticos (05)
António Ferro no decorrer da entrevista, com o Presidente Carmona, 1934. Edição SPN Lisboa, pág. 13-14 Consultar todos os textos »»
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