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UM GRANDE CHEFE DE ESTADO
Considerações de ordem geral que me acodem ao correr da pena, porque felizmente não precisamos da posteridade para reconhecer a grandeza do actual Chefe de Estado da Nação portuguesa. Quem há aí que não o admire e não se comova com a simplicidade tocante do seu perfil, das suas maneiras e da sua linguagem? Quem há aí que não o sinta vibrando constantemente com os seus compatriotas, perto das suas alegrias e das suas tristezas? Ele é o companheiro de nós todos, o português com quem sentimos a necessidade de desabafar «quando as coisas não marcham como deviam marchar», quando surgem mal-entendidos ou intrigas, que ele desfaz, sempre num sorriso afável e bondoso, intrigas que não chegam, às vezes, a pronunciar-se, que se diluem e perdem a força diante dos reposteiros enigmáticos e severos do Palácio de Belém... Aparentemente, um militar-gentleman, fidalgo, acolhedor, que procura dar a impressão, por habilidade natural ou simples modéstia, que as suas funções são meramente representativas, decorativas. De facto, atrás desse ar falsamente alheado dos homens e das coisas, dessa encantadora simplicidade, um político arguto, finíssimo, dum notável bom senso, que intervém sempre na hora própria, cuja acção se faz sentir, quando menos é esperada, quando o supomos longe ou até indiferente ao que se passa... Em seis anos, que se completaram em Abril passado, quantas complicações ele não tem evitado com uma simples palavra oportuna ou com um silêncio oportuno... Dentro do País, não há ninguém que não sinta, que não adivinhe a sua benéfica influência na marcha das coisas públicas. Quando ele esteve, há pouco mais dum ano, em perigo de vida, todos os portugueses, desde o chefe do seu Governo, ao mais humilde trabalhador, seguiram, com ansiedade, a marcha da sua doença, certos de que a sua desaparição constituiria uma grande perda nacional e de que viria embaraçar, gravemente, a marcha do Estado Novo. Fora do País, a figura simpática, veneranda, do Presidente Carmona é conhecida em todo o Mundo. A fidalguia do seu perfil, o seu rosto de linhas nobres, duma cunhagem natural, a sua velhice elegante, aprumada, juvenil, conquistam, sem esforço todos os estrangeiros que o visitam e não mais o esquecem. Grande coração, aristocracia e diplomacia naturais, milagroso bom senso, patriotismo sereno e firme, tais são as qualidades essenciais deste grande Chefe de Estado que Portugal soube encontrar numa das horas mais difíceis da sua História.
Documentos Políticos (02)
Considerações de António Ferro enquanto aguarda ser recebido no Palácio de Belém, pelo Presidente Carmona para uma entrevista, 1934. Edição SPN Lisboa, pág. 6-8 Consultar todos os textos »»
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