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Sobre o regalo que para a tropa tem sido a Ditadura devo dizer que desconto 220$00 por mês para salvação pública. E 220$00 não se pode positivamente dizer que seja quantia «para os cigarros» … É esse o regalo que eu tenho recebido, ouviste ó Perpetuazinha engenheira e Cunha Leal? E tenho vontade de neste momento atirar dois tremendos manguitos — também sem punhos de renda … como diz o Cunha Leal — para estes dois trapalhões que aí andam a envenenar, mentindo difamando, sem reparar como se dão ao disfruto, perante o que a imprensa financeira do mundo diz do homem que é Salazar. Mas antes dos manguitos, que nada resolvem, vamos a factos. De novo chamo a atenção do «respeitável público» e em particular dessa mocidadezinha afonsista. Financeiramente qual era o estado do país na mão dos ladrões? Já o disse noutro capítulo. Que importância ligavam os bem-falantes da tasca de S. Bento ao orçamento? Esta: Nos anos económicos de 1919-20, 1920-21 e 1921-22 viveu-se sem orçamento porque as câmaras não o discutiram nem o aprovaram, recorrendo-se a duodécimos provisórios. Em 1922-23 o orçamento aprovado previu um déficit de 293:000 contos e isto quando as receitas se calculavam em 279:000 contos!!! Em 1923-24 foi aprovado o orçamento fora do prazo constitucional e previa um déficit de 158:000 contos, apesar de, pela reforma tributária de 1922, as receitas haverem aumentado. Em 1925 … quartel-general em Abrantes, tudo tal e qual como dantes; não se discutiu orçamento: ficou o mesmo. De 1919-20 a 1925-26 as contas fecharam com um déficit, cuja média orça por 6 milhões de libras. Como se cobriam os déficits? Fabricando papéis pintados — vulgo notas. Desta forma a circulação fiduciária que era de 370:000 contos em 31 de Dezembro de 1919, montava a 1.760:00000 em 1924, data em que se deixou de imprimir papel para se fazer idêntica pouca vergonha: — elevar doida e criminosa- mente o juro de bilhetes de tesouro e absorver pela conta corrente pela Caixa Geral dos Depósitos as importâncias lá postas pelo povinho, inibindo-se assim aquele estabelecimento de crédito de prestar auxílio palpável à agricultura e indústria. Segue-se Sinel de Cordes que andou com papas quentes, até que vem o grande homem Salazar. — Sabe o que quere e para onde vai, conforme declara … E pela primeira vez apareceu o Ditador. Sai o orçamento para 1920-1930. «Reduzem-se as despesas em 140:000 contos.» Aumentam-se as receitas em 200:000. São estes contos chupados ao país, que no dizer da engenheira Perpétua e do palhaço Cunha Leal rebentaram com a economia porque excederam a capacidade tributária … Serão capazes estes dois tipos de me dizerem em escudos, qual é a capacidade tributária da Nação? A Nação trabalha, vive uma vida nova. A vida económica desenvolve-se como já disse. Há, a prejudicar, a crise económica mundial, que agora, ao rever estas páginas para irem para o prelo, é feroz, deshumana, no mundo inteiro. Em verdade o digo: renasceu Portugal. Logo em 1928-29 as contas da gerência fecham com 286:000 contos de saldo positivo e 40:000 contos em 1929-30. Depois: reembolso aos credores da dívida flutuante externa e logo a seguir, progressivamente, constitue depósitos em Ouro que em Maio de 1931 atingiram a cifra de £ 1.700:000. Pode o Cunha Leal berrar, fazer o que tem feito toda a sua vida, que a verdade é esta. O nosso fundo externo a 3% da Bolsa de Londres cotava-se em 2 de Abril de 1928 a 38 1/4 (1ª série), a 43 1/4 a 3ª série e em Abril de 1929 cotava-se já repentinamente a 43 e 43 3/4 chegando depois disso a 44 1/4 e 47!!! E é mais verdade ainda o seguinte: A dívida flutuante interna que em Junho de 1928 andava por 2.008:740 contos, estava em Janeiro de 1931 reduzida a 826:646 contos ou seja menos de metade. Foi assim, Cunha Leal, e não com berros que o Estadista com E grande pôde criar a Caixa Nacional de Crédito. Mas anda cá, Cunha Leal; há mais: a moeda portuguesa estabilizou-se ou não, de facto, nos últimos três anos? Não estava ela cotada em Londres em Março de 1928 a 126$00, em Dezembro a 109$25 e nos anos seguintes não se fixou invariavelmente a 108$25? Hoje com Salazar já se gastaram à roda de três milhões de libras com estradas, portos, edifícios e outros melhoramentos públicos, essas tais vias de comunicação de entrada e saída que tu achas desnecessário aumentar, consertar ou criar. (Continua)
EM DEFESA DO REGIME (07)
Da Pulhice do «Homo Sapiens» de Humberto Delgado. 1933, pág. 219 a 222. Salazar, a Perpétua e o Cunha Leal. — Opiniões de Homens sobre Salazar. — Os orçamentos. — Para que servia afinal o Parlamento? Consultar todos os textos »»
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