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Nós temos prosseguido sem descanso a política da paz e podido conciliar esta, mercê das circunstâncias e de muitos esforços, com os nossos deveres e os nossos melhores interesses. O prestígio que conseguimos, as amizades que criámos ou pudemos estreitar têm-nos servido para manter afastada de nós a guerra, mas esta atitude ou política não nasceu de um sentimento puramente interesseiro ou comodista, que em caso algum estivéssemos dispostos a sacrificar. Cremos que a guerra é um mal, mesmo quando é uma necessidade, mas sabemos que há para os povos outros males maiores, porque os há que excedem a morte e a miséria — são a sua desonra e aniquilamento. Julgo em todo o caso que no estado convulso da Europa é alta mercê da Providência manterem-se algumas zonas isentas do flagelo da guerra, porque, por mais ousada que a afirmação pareça, é com estas reservas de paz que em grande parte se há-de construir a paz futura. O nosso desejo e a nossa política da paz, cá dentro e lá fora, em nós e com outros, não dispensam, muito pelo contrário, nem a preparação moral nem a preparação material do Exército, e ninguém nos pode acusar com justiça de não havermos empregado todos os esforços para na medida permitida pelas circunstâncias executarmos o nosso programa. Seremos porventura menos queixosos se não apreciarmos o que está projectado e feito à luz do «absoluto» das nossas aspirações de segurança — toda a História demonstra como é precária tal aspiração — mas na realidade dos sistemas de forças combinadas permitidas pelo condicionalismo político, e também se não esquecermos que certas deficiências ocasionais podem ser supridas por garantias de outra ordem.
O Problema Político Externo - Criação de uma Política Externa Portuguesa (15)
(«Dever militar» — Brinde na Casa Militar de Lisboa, em 28 de Maio — «Discursos», Vol. III, págs. 250-251) – 1940 Consultar todos os textos »»
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