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..:. TEXTOS
Nós desejaríamos que a Europa se convencesse de que é norma da nossa vida pública cumprir com honestidade, senão com escrúpulo, aquilo a que nos comprometemos, mas para tanto precisamos de saber claramente o que nos é exigido. Ora há muito que vemos perderem-se na invenção de fórmulas vagas os esforços que melhor se empregaram em descobrir soluções concretas e não temos notado quaisquer resultados dessa orientação. Não os poderia ela ter, pois que, por tal processo, à facilidade de conquistar adesões se sacrifica toda a possibilidade de exacto entendimento e de trabalho útil. Demais os grandes países podem assumir a responsabilidade de interpretar os textos das suas obrigações e regular estas pela interpretação própria, mas os pequenos não podem evitar atritos inconvenientes e discussões ou represálias senão aderindo a textos que não sejam dotados de demasiada elasticidade. Muitas vezes, talvez demasiadas vezes, se nos põe a alternativa de seguirmos determinado caminho ou ficarmos com a responsabilidade de desabar o Mundo. Nós não acreditamos que em geral as coisas pudessem passar-se com tanta simplicidade e tão grande perigo, mas não queremos opor-nos aos bons entendimentos, sempre que não temos de respeitar um alto princípio moral ou de atender a interesses vitais do País: estes não podemos sacrificá-los a nenhuma consideração, mesmo porque passa a ser naturalmente bastante secundária para nós a desgraça do Mundo, se nós já não existirmos para senti-la.
O Problema Político Externo - Criação de uma Política Externa Portuguesa (05)
(«Os acontecimentos de Espanha e a não-intervenção» — Nota oficiosa publicada em 23 de Setembro — «Discursos», Vol. II, págs. 200-201 e 204) – 1936 Consultar todos os textos »»
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