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A questão colonial está na ordem do dia: os homens que lhe dedicam os seus estudos ou se sentem dominados pelas grandes preocupações ligadas aos domínios coloniais estão lançando com as suas ideias ou propostas a intranquilidade no seio de várias nações. Temos visto circular a ideia de atribuir todas as colónias à S. D. N., para serem directamente administradas por ela ou sob a forma de mandatos. Temos visto circular a ideia de restituição das colónias aos países desapossados delas ou nova distribuição de mandatos coloniais. Vemos agora, envolta ainda em indecisas brumas, a última modalidade — da livre atribuição de matérias-primas coloniais. Sabe porventura alguém com precisão o que isso seja? Parece que há poucos dias numa capital europeia, em «chá» oferecido aos jornalistas por uma alta personalidade política, alguém perguntara o que significava aquela fórmula, e diz-se que o interpelado, espirituosamente respondeu: Vous savez que je suis très peu intélligent et c’est pourquoi je ne la comprends pas. Temos verificado nos últimos anos deixar-se a Europa sugestionar e andar pressurosa atrás de fantasias de que primeiro se espera tudo e de que depois não resulta nada. Locarno, Stresa, Estados Unidos da Europa, Conferência Económica de Londres não são já esperanças, são cemitérios. E ninguém nos diz que muitos não correm agora também atrás de ilusões. Nós afligimo-nos por vezes demasiadamente e sem razão. Na questão dos mandatos não estamos mesmo directamente em causa: não temos nenhum e depois do tratado de Versalhes só recebemos Quionga a título de restituição de territórios nossos de que abusivamente havíamos sido desapossados. No meio do desassossego geral é no entanto bem provável que venha a haver campanhas de imprensa, discursos ameaçadores, longos artigos de jornais ou de revistas e depois disso é também provável que não haja mais nada. De contrário ou se trata de fórmulas jurídicas e é preciso ter razão, ou se trata de outras e é preciso ter força. Esperemos que uma e outra nos não faltem no momento preciso.
POLÍTICA ULTRAMARINA (04)
(«Independência da política nacional») — Discurso aos deputados, em 21 de Fevereiro — «Discursos», Vol. II, págs. 116-118) – 1936 Consultar todos os textos »»
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