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Portugal não se fez ou unificou nos tempos modernos nem tomou a sua forma com o ideal pagão e anti-humano de deificar uma raça ou um império. Constituiu-se com os limites que ainda hoje tem na Ibéria, já nos séculos XII e XIII e com imensos domínios na África, na Ásia, na Oceânia e na América nos séculos XV e XVI, defendendo do islamismo a civilização romano-cristã e dilatando esta por novos mundos. Esta vitória, transcendente para a humanidade, conseguimo-la quando os outros Estados da Europa se envolviam em lutas de dinastias, de cismas, de heresias, que a ensanguentavam. A universalidade de ideia e de acção no curso da evolução católica e europeia, dirigida à elevação material e moral da espécie, eis a característica da história da nossa Pátria. Foi com ela que firmámos baluartes admiráveis de defesa ocidental na Mauritânia, povoámos os arquipélagos atlânticos, bordámos de fortalezas e feitorias os contornos da África e do Ocidente, abrimos o caminho para as relações de todos os povos e fizemos o Brasil. Essa virtude ecuménica do nosso espírito histórico foi, é certo, eclipsada em curtas décadas — momentos breves da marcha humana. Mas nem morria na alma da Nação ou até mesmo na essência das instituições, nem deixou de se expandir com vitalidade logo que, isenta de influências estranhas, pôde de novo tomar plena consciência de si própria. Apesar dos erros e contradições anárquicas desde o meado do século XIX, foi revivendo no continente a virtualidade fecunda da civilização cristã e do progresso geral que está na essência da alma portuguesa. Além, nos restos ainda grandiosos das antigas descobertas e conquistas, por efeito do mesmo renascimento, foi-se alargando o novo trabalho da nossa ocupação política, da nossa evangelização, da nossa administração tutelar, da nossa colonização e das relações entre os domínios e a Mãe-Pátria. Por último, a Ditadura Nacional, atacando pela base todos os elementos doutrinários de desagregação e criando o equilíbrio financeiro que tem de estar nos fundamentos da restauração geral, veio dar condições de amplo desenvolvimento ao espírito imanente da tradição que fez Portugal nascer, crescer, brilhar e tem a virtude de lhe dar solidez e perpetuidade. Pelos seus decretos, pela nova Constituição do Estado, pelo Acto Colonial, pelo Estatuto das Missões Católicas Portuguesas, pela Carta Orgânica do Império, pela Reforma Administrativa Colonial vai assegurando, dentro da nossa herança daquém e dalém-mar, a sequência de mesma missão histórica. Portugal e o seu Império são um corpo territorial e político, feito pela história dos séculos no globo, para assegurar a independência, a expansão, a actividade económica e o intercâmbio do primeiro povo que foi procurar, com duros trabalhos e sacrifícios, nos oceanos e mundos novos, o complemento da sua acanhada sede europeia. Impõe-se aos portugueses de hoje com a força das suas tradições, com o poder da sua gente empreendedora, com a justa aplicação dos seus capitais e do seu crédito, com a coordenação da sua produção agrícola e industrial, conservar e desenvolver a sua integridade geográfica na Ibéria, na África e no Oriente.
POLÍTICA ULTRAMARINA (02)
(O espírito da Revolução» — Discurso na visita oficial ao Porto, em 28 de Abril — «Discursos», Vol. I, págs. 324-326) – 1934 Consultar todos os textos »»
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