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Na verdade amesquinharíamos o conceito de Nação quando nela víssemos apenas a comunidade de agricultores ou comerciantes que exigem do Estado a protecção e desenvolvimento dos seus interesses materiais. Quando se é velho e se tem, além de alguns séculos, uma História, sente-se que existem outros valores, e estes são ao mesmo tempo património e imperativos da vida nacional. A razão manda que um se conserve e aos outros sejamos fiéis. Quando, ao lado da ponte ou da estrada que lançamos para comodidade dos povos, reparamos o castelo ou o monumento, reintegramos a pequena igreja secular ou o mosteiro abandonado, alguns não vêem que trabalhamos por manter a identidade do ser colectivo, reforçando a nossa personalidade nacional. E é isso que fazemos. Aquelas qualidades que se revelaram e fixaram e fazem de nós o que somos e não outros; aquela doçura de sentimentos, aquela modéstia, aquele espírito de humanidade, tão raro hoje no mundo; aquela parte de espiritualidade que, mau grado tudo que a combate, inspira ainda a vida portuguesa; o ânimo sofredor; a valentia sem alardes; a facilidade de adaptação e ao mesmo tempo a capacidade de imprimir no meio exterior os traços do modo de ser próprio; o apreço dos valores morais; a fé no direito, na justiça, na igualdade dos homens e dos povos; tudo isso, que não é material nem lucrativo, constitui traços do carácter nacional. Se por outro lado contemplamos a História maravilhosa deste pequeno povo, quase tão pobre hoje como antes de descobrir o mundo; as pegadas que deixou pela terra de novo conquistada ou descoberta; a beleza dos monumentos que ergueu; a língua e literatura que criou; a vastidão dos domínios onde continua, com exemplar fidelidade à sua História e carácter, alta missão civilizadora — concluiremos que Portugal vale bem o orgulho de se ser português.
O Problema Político Interno: A NAÇÃO, O ESTADO E A IGREJA (08)
(«Os princípios e a obra da Revolução no momento interno e no momento internacional» — Ao microfone da Emissora Nacional, em 27 de Abril —«Discursos», Vol. III, págs. 402-403) – 1943 Consultar todos os textos »»
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