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Não se fecham os olhos nem à razão nem à prática; aproveita-se do que outros têm tentado e do que se viu no nosso próprio País na conturbada época que nos precedeu; mas não se garante que tudo quanto em pormenor a nova Constituição estabelece seja o melhor. Na transformação política e social a que estamos assistindo, que estamos vivendo, a preparar, num mundo em convulsões, o futuro da nossa Pátria, temos de atingir, como for possível, este dualismo difícil — estudar com dúvida e realizar com fé.
Até que ponto deve ser deixado imutável, deve ser cultivado o conceito generalizado, tradicional da vida da Nação, os seus velhos ideais patrióticos, a sua forma de compreender a vida e de actuar no mundo? Por mim atrevo-me a dizer que estamos demasiadamente presos à memória dos nossos heróis — nunca, aliás, querida e venerada em excesso —, demasiadamente escravizados a um ideal colectivo que gira sempre à roda de glórias passadas e inigualáveis heroísmos. O nosso passado heróico pesa demais no nosso presente.
A querermos agarrar-nos às concepções dos tempos heróicos, corremos o risco de aparecermos como braços desocupados num mundo novo que não entende. Eis porque uma directriz nova deve ser dada à Nação e à sua vida colectiva, aproveitando as formidáveis qualidades da raça e neutralizando alguns dos seus principais defeitos. Uma mentalidade nova fará ressurgir Portugal.
O Problema da Educação (11)
(«Prefácio» a «Salazar — O homem e a sua obra», de António Ferro, págs. XXXII, XXXIX e XL-XLI) - 1933 Consultar todos os textos »»
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