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Dentro das linhas gerais da nova ordem constitucional está este pensamento: juntar-se ao progresso económico indispensável a restauração e desenvolvimento dos valores espirituais. Durante longas décadas, que abrangem as primeiras do presente século, o materialismo teórico ou prático pôs a política, a administração, a ciência, os inventos, as escolas, a vida individual e colectiva preferentemente ao serviço das preocupações ligadas às riquezas e às sensações. Se não pôde eliminar toda a influência das preocupações que tradicionalmente prendiam a evolução do indivíduo, da família e da sociedade aos bens do espírito e à solidariedade de fins superiores, não foi porque não tendesse à sua destruição, hostilizando-as e desviando todas as atenções para o que exclusivamente se refere à existência física. Mostrou a experiência, dolorosamente, ser esse caminho o melhor para fazer surgir multidões de egoísmos mais fortes que a providência de governos normais, para desencadear lutas internas ou externas, convulsões de violência nunca vista, que ameaçam sepultar os homens em nova barbaria. O Estado Novo, que se pretende constituir em Portugal, esforça-se por conseguir a solidez e prosperidade das finanças e da economia nacional por meio de rigorosa administração e de largas obras de fomento, para ser mais estável a situação do Tesouro e melhores as condições de vida de todas as classes. Temos já provado suficientemente pelos factos que, mesmo sob este aspecto, deixamos a perder de vista, em esforços e resultados, os que antes de nós governaram com ideologia que diríamos não visar a mais nada. Mas não se há-de supor que esses objectivos são no Estado Novo únicos ou absorventes: outros há a que devemos ligar maior importância porque verdadeiramente devem ter aqueles na sua dependência. Temos de trabalhar e de favorecer a acção dos que trabalham para a justa compreensão da vida humana com os deveres, sentimentos e esperanças derivados dos seus fins superiores, com todas as forças de coesão e de progresso que nascem do sacrifício, da dedicação desinteressada da fraternidade, da arte, da ciência, da moral, libertando-nos definitivamente duma filosofia materialista condenada pelos próprios males que desencadeou. É aí que está a verdade, o belo e o bem – vida do espírito. Não só isso: está aí a garantia suprema da ordem política, do equilíbrio social e do progresso digno deste nome.
Fundamentos da Ordem Social (08)
(«O Estado Novo português na evolução política europeia» — Discurso na inauguração do I Congresso da U. N., em 26 de Maio — «Discursos», Vol. 1, págs. 338-340) – 1934 Consultar todos os textos »»
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