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O trabalho, todo o trabalho tem a mesma nobreza e a mesma dignidade, quando é a contribuição proporcionada às faculdades de cada um para a colectividade a que pertence. Mas, sendo igualmente digno sob o ponto de vista humano, não tem o mesmo valor sob o ponto de vista económico e social. Tem utilidades diferentes, tem rendimentos diversos e por isso não pode ter igual remuneração. Por este motivo há diferenciação nos indivíduos, nos géneros de vida, nas classes da sociedade. Nós, que temos adulterado o sentido de tanta coisa, também adulterámos esta; uns desprezam o trabalho manual e outros aviltam a superioridade da inteligência, reivindicando como grande honra chamarem-se também trabalhadores. Eles o são efectivamente, mas se há no primeiro caso injustiça contra a dignidade do trabalho, há no segundo baixa subserviência perante a força material das massas operárias: uns e outros estão fora da verdade. Nós queremos para nós a missão de fazer com que um elevado critério de justiça e de equilíbrio humano presida à vida económica nacional. Nós queremos que o trabalho seja dignificado e a propriedade harmonizada com a sociedade. Nós queremos caminhar para uma economia nova, trabalhando em uníssono com a natureza humana, sob a autoridade dum Estado forte que defenda os interesses superiores da Nação, a sua riqueza e o seu trabalho, tanto dos excessos capitalistas como do bolchevismo destruidor. Nós queremos ir na satisfação das reivindicações operárias, dentro da ordem, da justiça e do equilíbrio nacional, até onde não foram capazes de ir outros que prometeram chegar até ao fim. Nós queremos defender as massas proletárias dos seus falsos apóstolos e demonstrar com a nossa atitude que não há uma questão económica a dividir-nos, mas no fundo, como o deixámos demonstrar há pouco, para que se abram os olhos que teimam em estar fechados, um conceito diferente de vida, outra ideia de civilização. Resta saber se o que há de transcendente e de eternamente verdadeiro e belo no nosso património lusitano, latino e cristão, nós o deixaremos perder, sem consciência da sua superioridade, perante a ameaça da nova época bárbara.
Fundamentos da Ordem Social (05)
(«Conceitos económicos da nova Constituição» — Discurso radiodifundido da U. N., em 16 de Março — «DISCURSOS», Vol. I, págs. 198-199 e 209-210) – 1933 Consultar todos os textos »»
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