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O caminho para o futuro pode ser traçado por dois processos: um seria a elaboração de uma nova lei de reconstituição económica que, por período mais ou menos longo, dominasse a actividade da Administração e, até certo ponto, a orientação da economia; outro, a meu ver, preferível, consistiria na definição de um plano de fomento, preciso e restrito, que se ativesse mais de perto às possibilidades financeiras e desse prioridade a alguns grandes empreendimentos de carácter mais vincadamente reprodutivo. Não se pode querer tudo ao mesmo tempo, e é a altura de definir critérios de preferência. Não creio no pior, mas é visível que o esforço de rearmamento intensivo a que vão dedicar-se as potências ocidentais pesará duramente sobre a economia do Mundo durante uns poucos de anos. Os efeitos da intensificação da produção de armamentos não são idênticos, porque muito inferiores aos do seu desgaste em tempos de guerra; mas basta que os Estados Unidos e a Inglaterra tenham de desviar parte importante da sua indústria para a produção militar para que a economia do mundo ocidental se ressinta e tenha de resignar-se a viver em novas e mais apertadas condições. Ora a impossibilidade de prever em pormenor a evolução dos acontecimentos, a instabilidade e rarefacção dos mercados, o desconhecimento dos encargos que nós próprios teremos de suportar para reforço da nossa defesa ou da defesa comum tiram ao actual momento todos os requisitos de abertura da nova época com que contávamos e dão-lhe, pelo contrário, a fluidez, a imprecisão nevoenta, a insegurança dos tempos provisórios e dos períodos de espera. Eis porque me parece que temos de ser muito severos nos gastos e moderados nas ambições, tanto nas respeitantes aos nossos interesses particulares como aos grandes empreendimentos públicos. Eis porque mais do que uma lei ambiciosa, se me afigura corresponder às circunstâncias actuais um plano modesto de fomento a executar em meia dúzia de anos e ordenado para satisfação de algumas das maiores e mais prementes necessidades do povo português. Um velho amigo envia-me, de vez em quando, a expressão dos seus anseios e recomenda instantemente ao meu cuidado estas duas coisas simples e, não obstante, fundamentais — o pão e a enxada. Creio possível tirar desta indicação sumária as grandes linhas dos aproveitamentos hidroagrícolas, das indústrias de adubos, da energia eléctrica e do ferro, ao menos para a enxada e a charrua, que ninguém sabe as canseiras que deu consegui-lo, para esses e outros fins igualmente imperiosos, há poucos anos atrás.
O Problema Social - Política de Fomento (07)
(«Governar, dirigindo a consciência nacional» — Discurso à Unido Nacional, em 12 de Dezembro — «Discursos», Vol. IV, págs. 494 e 497-498) - 1950 Consultar todos os textos »»
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