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Julgo que algumas vezes se têm exagerado as nossas possibilidades. Nós somos um país pobre, que, tanto quanto se enxerga no futuro, não pode na Metrópole aspirar a mais que à dignidade de uma vida modesta. A ideia de que somos um país rico por causa da doçura do clima e do puríssimo azul do nosso céu é uma ideia feita... e falsa, como a dos incultos do Alentejo e a da imensidão dos baldios. Ao país pequeno e acidentado, as serras, as rochas, as dunas, as terras áridas diminuem-lhe muito a superfície; a irregularidade das chuvas, o regime de sequeiro, a exigência e carestia das regas, onde isso se pode fazer, tornam ou precária ou cara a produção. A agricultura é falível na quantidade de géneros e no rendimento líquido. Temos o mar, mas o subsolo não é comparável em combustíveis ou minérios ao da generalidade das nações europeias. Há um elemento que nos tem porventura feito equivocar — a qualidade de algumas produções. Os vinhos, as frutas, o peixe são de alta qualidade, preciosos, no rigor da palavra. Para admitirmos que tivéssemos aí compensação era preciso partir do princípio de que a vida moderna de massas, tipos e produções em série, reservava ainda lugar para o produto fino em que a mãe-natureza se compraz, sacrificando ao perfume, à cor, ao gosto apurado, a altas virtudes, a banal quantidade. Não estou seguro disso. No acanhado espaço a população em crescimento constante procura viver — há-de encontrar trabalho e sustento. Não se dá outro fim ao que se tem feito para conhecer de verdade as riquezas do subsolo e a sua melhor utilização, fixar as dunas, repovoar as serras, dividir e aproveitar os baldios, irrigar os campos, regularizar os cursos de água, enxugar, dessalgar e defender as terras. Tudo é apenas alargar as áreas úteis — propriamente tornar maior o País. Sem suspensão nem desvios há aí trabalho para duas, três décadas ou mais e gasto de muitos milhões, mas os resultados hão-de possivelmente revelar-se em atraso relativamente à população — tanto em disponibilidades alimentares como em trabalho exigido: grave dificuldade. Vejo-lhe dois remédios, a aplicar conjuntamente — a colonização ultramarina, a intensificação do trabalho industrial. As terras coloniais, ricas, extensas, de valor nulo e fraquíssima densidade populacional são o natural complemento da agricultura metropolitana, nos géneros pobres sobretudo, e das matérias-primas para a indústria, além de fixadores de uma população em excesso daquilo que a Metrópole ainda comporte e o Brasil não deseje receber. Definida a solidariedade económica e política nalgumas proposições do Acto Colonial, a marcha do tempo tem ido revelando a possibilidade e demonstrando inequivocamente a necessidade de uma política que assente na base imperial a economia da Nação.
O Problema Social - Política de Fomento (05)
(«Os princípios e a obra da Revolução no momento interno e no momento internacional» — Ao microfone da Emissora Nacional, em 27 de Abril — «Discursos», Vol. III, págs. 395-397) – 1943 Consultar todos os textos »»
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