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Não há igualmente dúvida de que o princípio de custear pelos orçamentos ordinários as obras de que necessita um país para se desenvolver, condenaria na maior parte dos casos a progresso demasiadamente lento a economia e a vida das populações, e portanto muitas daquelas devem razoavelmente ser custeadas por empréstimos. Mas a minha experiência da administração pública tem-me demonstrado não estarmos ainda hoje habilitados a gastar bem o dinheiro de que dispomos. Todos os anos as contas mostram não coincidirem a capacidade financeira e a capacidade de realização. Provém isso, de um lado, do atraso em que, por falta de trabalhos públicos, caiu a técnica oficial, e, do outro, da exigência de planos bem formulados e de projectos estudados a rigor. Nós fomos obrigados a pôr de lado essa espécie de planos «por subscrição» ou «por apetite», para tudo enquadrarmos nas verdadeiras necessidades ou superiores interesses do País; e sem isso a chuva de oiro tantas vezes ambicionada faria a nossa desgraça. Nos Colónias não devem passar-se as coisas de modo muito diferente; e, se estamos sempre dispostos a estudar ainda com mais fervor ou carinho o que respeita aos seus interesses, porque lá os portugueses têm contra si a distância e por vezes maiores dificuldades de viver, nunca se poderiam dispensar estas três coisas: que o dinheiro seja bem gasto, que possa ser recuperado, que as obras estejam em harmonia com o estado de desenvolvimento geral. Nem há no meu espírito qualquer objecção a que, sendo necessários mais demorados estudos para aprovação de planos de conjunto, como o que respeita a Angola, deles se desintegre para ganhar tempo tudo quanto imediatamente possa ser resolvido e realizado. É natural que alguns métodos de trabalho tenham de ser substituídos por outros mais expeditos e de maior rendimento; é natural ainda que haja de refazer-se, ou fazer-se, a educação do espírito nacional – sempre a boa vontade na base da acção. Esse pretensioso desdém com que se olhava, ao lado das coisas de Londres ou Paris, a produção metropolitana, mesmo nos artigos em que podíamos desafiar comparações, vai desaparecendo e agora não pode ressurgir para sacrificar aqui a produção colonial, nas colónias a da Metrópole. Mas as instituições e as leis devem funcionar de modo que se seja patriota por necessidade, quando se não é por disciplina ou virtude.
O Problema Social - Política de Fomento (03)
(«O Império Colonial na economia da Nação» — Discurso na inauguração da I Conferência Económica do Império, em 8 de Junho — «DISCURSOS», Vol. II, págs. 168-169 e 170-171) – 1936 Consultar todos os textos »»
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