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O estado de absoluta necessidade é inconciliável com a independência moral, do que se deduz ser necessário a um povo dispor de suficiência económica para que ele se possa determinar livremente e em harmonia com o seu interesse. Este interesse é a política encarregada de o definir e guardar. O maior de todos é a integridade e a independência, atributos de que deriva a possibilidade de a Nação se engrandecer e prosperar, realizando no tempo a sua missão. Se a Nação, como agregado autónomo, é precisa ao progresso social, toda a doutrina e acção política, no mais lato sentido em que se possam tomar, tendem ao objectivo supremo de assegurar aos homens os meios materiais e condições para a sua vida moral. Anda muito longe das realidades do momento quem supõe poder hoje produzir, negociar, viver fora da organização. Há ainda a escolha do tipo; já a não há do facto. Hoje não existem industriais ou agricultores — há a indústria ou a agricultura, a produção de ferro ou a de cereais. Uma tonelada de carvão e um fardo de lã são problemas de Estado. Os governos encontram-se frente a frente e falam em nome da sua economia. Em nome dela se toma o compromisso de comprar, de vender, de permutar, muitas vezes quantidades, algumas vezes com preços, sempre em prazos determinados. Isto não pode conceber-se fora do conhecimento exacto das possibilidades e fora duma rígida disciplina — entre nós a disciplina corporativa. Para apreciar devidamente as coisas devíamos lembrar-nos de que a organização é recente, não é completa e não é perfeita. Ela reflecte naturalmente os próprios defeitos que temos e não conhecemos em nós; sendo criada para tempos normais de paz, foi chamada a executar a política económica da guerra; mas o que inteiramente justifica a sua actuação é serem as faltas maiores precisamente onde não existe. Simplesmente então não sabemos quem acusar. Eu compreenderia ainda, dentro da atmosfera de imoderados ganhos para os quais desapareceu o obstáculo da concorrência, que alguns patrões aceitassem mal a disciplina da Corporação. Mas é-me difícil de entender que também no meio de operários e empregados se manifestem de vez em quando alguma hostilidade e desconfiança das virtudes fundamentais do sistema. Sem dúvida, o estatismo, o comunismo, o liberalismo têm razão de ver no corporativismo português um inimigo mortal. Mas não podem vê-lo aqueles a quem a organização corporativa, reconhecendo-os integrados na economia da Nação, quis integrar de pleno direito no Estado, e que através da organização corporativa lograram a decisiva vitória de tornar solidário o social do económico, com o consequente reconhecimento da sua dignidade e qualidade de colaboradores.
Liberalismo e Dirigismo (09)
(Defesa económica Defesa moral — Defesa política» — Ao microfone da Emissora Nacional, em 25 de Junho — «Discursos», Vol. III, págs. 321-322 e 327-329) – 1942 Consultar todos os textos »»
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