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Quando se procura saber que causas independentes ou estranhas à vontade dos povos e dos governos se encontrarão na base dos problemas de hoje, temos visto que à crise económica de 1929 se atribuem todos ou quase todos os males de que sofrem as nações. A intervenção para atenuar ou eliminar os efeitos da crise foi intensa tanto no terreno nacional como no internacional — intensa e inútil. Sucederam-se os remédios e as desilusões, os convénios, os congressos, as conferências e as leis, e foi afinal o tempo que a foi curando, pois à parte a linha geral da política seguida em relação ao ouro pela Inglaterra e os Estados Unidos, pode dizer-se que nada internacionalmente se fez que melhorasse a situação, e no domínio nacional muitas medidas se tomaram que deveriam ter tido efeitos contraproducentes. Em face da crise, os egoísmos nacionais tornaram-se insensíveis ou hostis, e cada um teve de tratar de si, fazendo apenas votos por que as medidas tomadas por outros não constituíssem para cada qual exagerado gravame. A crise, ou pelo menos a maior parte das suas manifestações, passou — e o mal-estar universal continuou com a mesma acuidade, supomos. No campo económico e social o desequilíbrio, o desarranjo, a angústia dos povos não são pois filhos da crise económica; vêm de maior profundeza — nós temos ousado filiá-los na crise do pensamento económico, ou seja na adulteração dos conceitos fundamentais da vida económica. Por tais motivos as lições deste passado recente nos mandam ser mais modestos, se não queremos ser mais ousados. No fundo, a humanidade reage contra uma economia anti-humana, em relação a cuja essência as intervenções conhecidas se haviam de manifestar claramente insuficientes.
Liberalismo e Dirigismo (07)
(«Pela Paz» - Resposta do Governo Português ao Memorando Hull, em 20 de Agosto — «Discursos», Vol. II, págs. 328-330) – 1937 Consultar todos os textos »»
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