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(Continuação)
O que convém a todos é que não deixe apodrecer na improdutividade a riqueza que possui e a converta em instrumento de trabalho, e a valorize, e a fecunde, e com ela produza mais riqueza de que todos aproveitem. E o que disto concluímos opõe-se assim directamente à primeira ilusão da classe operária quanto à riqueza; toda a organização económico-jurídica que, confiando-a ao Estado, deixe afinal ao alcance dos apetites de todos a riqueza produtiva, terá por efeito imediato desviá-la para o consumo, inutilizá-la, diminuí-la e provocar a miséria final da colectividade. Por outro lado, afastada a miséria e ainda a extrema pobreza, para cima duma certa mediania, a riqueza só exerce uma atracção irresistível, porque nenhuns limites morais pomos ao seu consumo, e poucos limites jurídicos o Estado põe à sua utilização. Mas exactamente essa ausência de limites é inimiga da paz, e nunca a riqueza, sob esse aspecto, deu a felicidade a ninguém. Vem atrás dum desejo outro desejo, nascem umas aspirações da satisfação doutras, alimentando uma ambição sem limites, como uma bebida misteriosa que tivesse por efeito tornar mais e mais ardente a nossa sede. Estas grandes ilusões, meus senhores, da riqueza e do trabalho são no entanto a alma da finalidade que se propõe a classe operária com a revolução social. Mas conquistar o poder e exercer o poder para transformar em preceitos de lei perfeitas ilusões, que, realizadas, diminuiriam a capacidade produtiva do mundo e destruiriam bases firmes de estabilidade social, não é arredar conflitos, é multiplicá-los; não é buscar a paz, é até mais a guerra; não é conquistar a felicidade, é aumentar a miséria e a dor. Se ao menos a posse do poder fosse em si um bem! Mas a experiência demonstra e a natureza das coisas exige que só uma minoria governe, e a mesma experiência tem mostrado que não é mais doce, para os que os elevaram, a mão de ferro dos novos dominadores.
(Fim)
O PROBLEMA DA RIQUEZA; SUA FUNÇÃO SOCIAL; CAPITAL E TRABALHO (01)
(«A paz de Cristo na classe operária pela SS. Eucaristia» — Discurso proferido no Congresso Eucarístico de Braga, em 4 de Julho) – 1924
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