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Mas não são produções de escola estas, são antes produções políticas, destinadas à inteligência do grande público, sendo necessário que, sem se diminuir em nada o rigor dos números e dos factos, a justeza dos conceitos, a lógica das deduções, tudo seja simples e transparente em tais matérias aos olhos do mais humilde cidadão. Numa obra que só se realizou porque o País compreendeu e cumpriu, este modo de trabalhar — defeito? qualidade? — impunha-se como um factor indispensável de êxito. Daqui vem o ar didáctico de muitas exposições, que alguns apelidaram indevidamente de dogmáticas e doutorais. Não deveria estranhar-se que da feição especial que a profissão marca no espírito da gente, um traço se notasse num ou noutro trabalho; mas verifico que a crítica vem apenas daqueles que eu creio estarem em muito boas condições de aprender, apesar da convicção em que se encontram de possuir toda a ciência. São maus discípulos estes, e de facto nunca os tive no meu pensamento. Tendo estudado alguma coisa do muito que me cumpria saber, não posso usufruir sobre tantos assuntos aquela deliciosa e descansada certeza em que bastantes espíritos, porque mais sagazes ou menos exigentes, têm a felicidade de repousar. Mas, duvidando sempre da fraqueza da razão humana, também não vou ao ponto de não distinguir em muitíssimos casos a verdade do erro ou de dar a qualquer opinião, por mais absurda, o valor de contribuição valiosa para o progresso dos conhecimentos humanos ou para a boa marcha da administração pública. Existe a verdade, simplesmente custa a encontrar, como os tesouros escondidos. Ai do homem público cujo espírito fosse presa de eterna dúvida! Se é necessária a indiferença intelectual no decorrer da investigação científica, para a acção individual ou colectiva é indispensável a certeza, ponto de apoio do mando, alicerce da decisão.
O Problema da Educação (06)
(«Duas palavras a servir de prefácio» ao volume «A reorganização financeira», págs. 7 e 8-9). 1930 Consultar todos os textos »»
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