O decreto n.º 21.879 lançou as bases para o contrato a celebrar entre o Estado e a velha Companhia das Águas. Esta foi insolitamente surpreendida, pois estava mergulhada na ignorância do que se tratava havia meses nos bastidores ministeriais, mas, nobremente – ainda que ferida naquilo que julgava os seus justos interesses –, aceitou o facto consumado e em 31 de Dezembro de 1932 assinava o contrato.
O lisboeta, admirado com a audaciosa medida, talvez queixoso no seu íntimo, aceitou-a e não reagiu. Estava ganho o primeiro recontro com a opinião pública. Faltava vencer a batalha da água, aflorada na explanação das obras anunciadas no novo contrato.
Convém, em rápida relação, enumerar as principais obras nele previstas. Compreendia quatro fases a seguir, cronologicamente:
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O conjunto destas obras com águas do Alviela e das Águas Livres dava a Lisboa e regiões suburbanas (Oeiras, Cascais, Sintra, Vila Franca de Xira e Loures) 250.000 metros cúbicos por dia, ou seja o bastante para um aglomerado de 1.000.000 de habitantes, à razão de 250 litros por cabeça. Antes de 1932 a captação estival era de 70 litros – um terço do que devia consumir!
A construção financeira para obra de tanta monta, que antes da guerra mundial deveria importar em mais de 300.000 contos, assentava no aumento de $70 no preço da água vendida ao público. De 1$30 que era, passava a 2$, com a capacidade de baixar após a conclusão das obras da 2.ª fase.
Infelizmente, veio o cataclismo militar-social de 1939, e as bases financeiras foram abaladas pela alta de preços dos materiais e da mão-de-obra e por tudo aquilo, enfim, que se chama custo de vida!
Os rendimentos da venda de água com o novo preço, deduzidas as despesas de administração da Companhia das Águas e o pagamento do dividendo aos seus accionistas, revertiam para um Fundo de obras (hoje Fundo da cidade), que, assim, era destinado a prover aos encargos dos trabalhos clausulados no contrato.
Por este contrato fora criada a Comissão de Fiscalização das Obras de Abastecimento de Água à Cidade de Lisboa, à qual competia a orientação e a fiscalização de todas as obras nele previstas, tais como as captações, as aduções e a remodelação e ampliação das redes da distribuição geral. Logo esta se deitou ao trabalho, iniciando a duplicação das linhas de sifões do aqueduto do Alviela, que permitia aumentar a capacidade de transporte daquele rio em mais 25.000 metros cúbicos, ficando assim com 65.000 metros cúbicos por dia, em vez de 40.000, ao meso tempo que aproveitava a ressurgência de Alenquer, nascente principal do rio deste nome – que nunca tinha sido considerado nos estudos da Companhia das Águas por se julgar muito fraco o seu caudal, preferindo-se-lhe as nascentes de Ota (8.000 metros cúbicos por dia), captadas em 1923.
A captação imediata das Águas de Alenquer pôde assim substituir a tomada de água do Tejo, a montante de Santarém, preconizada pela Companhia das Águas, e que era muito morosa e cara, visto as águas desse necessitarem de grande correcção e de tratamento adequado, além de importantes obras de adução até ao aqueduto do Alviela, onde eram lançadas.
(Continua)
(Parte CIX de …)
15 Anos de Obras Públicas – 1.º Vol. Livro de Ouro 1932-1947 (109)
(Fonte: 15 Anos de Obras Públicas – 1.º Vol. Livro de Ouro 1932-1947 – ÁGUAS DE LISBOA – João Carlos Alves – Presidente da Comissão de Fiscalização das Águas de Lisboa)