A EXPOSIÇÃO DO MUNDO PORTUGUÊS
A Exposição do Mundo Português, em 1940, foi um acontecimento único na nossa história, pela grandeza de que se revestia e pelo objectivo elevado que animou a sua realização. Considerada no que diz respeito aos artistas e técnicos – arquitectos, engenheiros, escultores, pintores, construtores e outros –, foi uma oportunidade magnífica para o exercício da sua actividade, num campo de experiências e possibilidades de revelação, um ambiente favorável de estímulos e incitamentos, que a todos levou, numa onde de consciência nacional e profissional, a concluir em ano e meio uma obra que, em condições normais e sem as razões particulares que imperavam, se teriam arrastado por muito tempo.
Os artistas e técnicos sentiram que era o momento de fazer a demonstração de um brio que, aliás, nunca lhes fora negado, mas que esse acontecimento punha à prova da maneira mais evidente; ao lançar a ideia da Exposição, o Governo desafiava, mesmo, o brio nacional de todos aqueles que, por qualquer modo, viriam a intervir na realização e que tinham presente o fracasso de alguns certames estrangeiros, inaugurados entre andaimes e entulhos, apesar de serem bem diferentes dos nossos os seus recursos de gente, materiais e processos. A Exposição do Mundo Português, porém, contava com um homem cujo nome nunca é de demais recordar: Duarte Pacheco!
Foi ele o calor do nosso próprio fogo sagrado, ora violento, ora carinhoso animador de devoções e entusiasmos, o removedor de obstáculos que pareciam insuperáveis, o regulador de passageiros desânimos e de exaltações excessivas, o diplomata dos atritos, o encenador de grandes e pequenas coisas – ao mesmo tempo Ministro e quase operário, homem duro de acção e camarada encantador. A Exposição foi uma aventura radiosa, foi mais uma descoberta portuguesa numa época em que parecia não haver mais nada que descobrir.
Feita de um fôlego, num mar de improvisos e surpresas, nela encontraram os seus realizadores largo campo para expansão de talentos e ousadias. A sujeição a um prazo determinado, se, por um lado, aumentava neles o sentido das responsabilidades e perigos, compensava-os, por outro, pelo gosto de verem realizado hoje aquilo que tinha sonhado e projectado… na antevéspera! O difícil esforço de equilíbrio na corda atravessada sobre o abismo do fracasso possível despertava neles também todas as acuidades adormecidas.
A natureza efémera de uma exposição convida ainda à audácia e aos grandes voos, já porque a fragilidade das suas construções os torna possíveis sob o aspecto orçamental, já porque, votadas estas à demolição, não há receio de futuras reconsiderações e arrependimentos. Assim nasceram, com a frescura da espontaneidade, os sonhos de certas salas onde a grandeza do nosso passado se tornava viva no presente, as evocações irreais de realidades esquecidas, o reviver de figuras e de factos poetizados pelos arquitectos e pelos outros artistas plásticos e logo materializados pelos engenheiros e construtores, pelos artífices de todas as categorias; assim a Exposição nasceu, floresceu e morreu, deixando uma recordação viva e o perfume forte de uma saudade que não se apagará.
(Continua)
(Parte CXL de …)
15 Anos de Obras Públicas – 1.º Vol. Livro de Ouro 1932-1947 (140)
(Fonte: 15 Anos de Obras Públicas – 1.º Vol. Livro de Ouro 1932-1947 – A EXPOSIÇÃO DO MUNDO PORTUGUÊS – Cottinelli Telmo – Arquitecto chefe da Exposição do Mundo Português)