COMUNICAÇÕES
Correios, Telégrafos e Telefones
A grande massa do público conhece os CTT com profundidade bastante para satisfação da sua curiosidade apressada de gente do século XX. Sabe que existem: porque lhe cuidam da correspondência, transmitem telegramas ou telefonemas.
Não ignora que têm defeitos: porque se habituou a ler na gazeta – entre os sucessos da Índia e as lutas pela paz universal – que as estampilhas têm pouca goma, ou o despacho endereçado para Montijo não chegou a Lamego, conforme alvorotadamente se esperava.
O que talvez desconheça é toda a série de canseiras que custa, a todo um exército de 12.000 homens, executar as operações necessárias à sequência dos seus desejos estudar, preparar os meios indispensáveis para o conseguir.
Quando se abordam os vértices das civilizações, as aparências tornam-se cada vez mais simples, à custa de engenhos dia a dia mais complicados. A obra dos CTT tem tando de visível para a massa anónima como de encoberto para seus olhos desatentos. Desvendar esses mistérios em regras breves será, já de si, tarefa de monta. Sujeitar-nos-emos, ainda em cima, a fazer de presunçosos ao pretender revelar, das coisas e dos homens, aspectos inesperados.
As atribulações da vida dos povos modernos podem aferir-se pela actividade dos CTT, verdadeiro barómetro das relações humanas. A nossa Administração Geral serve de garante ao surto formidável das duas últimas décadas observado no País: incessante aumento de tráfego, com ânsia premente de alargamento e de modernização dos serviços.
Muitos anos de desordem ou de indiferença, quase somente ruínas, dívidas e indisciplina nos legaram. Tudo ou quase tudo pobre, velho, rotineiro, incompleto, mal estudado ou por estudar.
À medida que os problemas surgiram houve que examiná-los, em profundidade, um a um, desde a origem, e encontrar para cada qual solução dinâmica e eficiente. Arrumada a casa, concluídos os planos, ganho o crédito, lançou-se a obra; mas logo veio a crise da guerra, com o seu cortejo de dificuldades e contratempos.
Muita dedicação, muita paciência, inabalável firmeza, ajudaram a vencer a partida. E já agora se poderá dizer, em boa verdade, que, em toda esta grande arquitectura, poucas serão as pedras antigas.
O surto expansivo dos CTT coincide, sensivelmente, com a vida do Ministério das Obras Públicas e Comunicações. E queremos supor não tenha deslustrado a actividade, quase miraculosa, daquele departamento da governação.
Falar da sua obra é fazer propaganda do pretérito: melhor de lançar que a do futuro, porque, se esta defende hipóteses ou miragens, aquela se funda no palpável. E S. Tomé deixou larga descendência… Melhor de lançar e de bom conselho. Porque muitos esquecem quanto ficaram devendo aos trabalhadores do colectivo, que só vivem para lhes dar cómodo e provento. «Só lhes interessa falar do que se não fez!».
Falemos nós então do que se haja feito. Não tanto para nos orgulharmos do sacrifício. Principalmente, para recordar como será fácil voltar para trás. E que, talvez, os filhos não ganhem com a experiência.
(Continua)
(Parte CXIV de …)
15 Anos de Obras Públicas – 1.º Vol. Livro de Ouro 1932-1947 (114)
(Fonte: 15 Anos de Obras Públicas – 1.º Vol. Livro de Ouro 1932-1947 – COMUNICAÇÕES – Correios, Telégrafos e Telefones – Luís d´Albuquerque Couto dos Santos – Correio-Mor)