Seria interessante rememorar as enormes dificuldades que esta obra da Companhia das Águas teve para abastecer a cidade de Lisboa, se outra fosse a índole do nosso escrito. Basta dizer que quase toda ela foi fruta da teimosia inteligente e patriótica do grande jurisconsulto Carlos Zeferino Pinto Coelho, que a fundou e amparou até morrer, já depois de a ver segura, firme e próspera.
E, já que falamos da Companhia das Águas «antiga», seja-nos lícito consignar aqui o espírito de boa colaboração que, desde o contrato de 1932, tem sido dado à Comissão de Fiscalização, no esforço comum de bem servir a cidade, dando-lhe, com largueza e fartura, a água de que precisa; e tanta que vai chegar para regar todo o perímetro florestal do Monsanto, a sonhada mata do engenheiro Duarte Pacheco, quando presidente da Câmara Municipal, que já hoje é uma realidade prometedora.
Desde belo espírito, importa destacar, como é de justiça, a acção da direcção da Companhia e o trabalho dos seus experimentados técnicos, na feitura e execução dos projectos, como por exemplo, o aqueduto do Tejo, devido à alta competência do, tão grande como ignorado (pela sua grande modéstia), coronel de engenheiros Severo Cunha. Ainda outro nome merece ser recordado: o de Carlos Pereira, director-delegado da Companhia das Águas, que esforçadamente trabalhou pela resolução da importante questão das águas de Lisboa, sem quebra do seu grande amor pela Companhia, que durante vinte e nove anos sabiamente administrou
Convinha, pois, que a obra que hoje se patenteia nos seus efeitos benéficos e salutares, levada a cabo mercê da vontade hercúlea de um homem de Estado e da sua clarividente prática e oportuna inteligência, fosse assinalada condignamente dentro da própria cidade – à qual tanto queria –, não longe do termo do aqueduto do Tejo. E assim ocorreu à Comissão de Fiscalização das Águas a ideia de erigir um monumento comemorativo da sua grandeza, que é a Fonte Monumental. E a ideia teve logo o aplauso e o incitamento do Ministro.
O sítio que primeiramente parecia impor-se era o Parque Eduardo VII.
Mas não havia então princípios assentes quanto à sua urbanização; por isso se escolheu a cabeceira do lado de nascente da Alameda D. Afonso Henriques, a contrabalançar a mole oposta do Instituto Superior Técnico.
As águas que brotam das suas cavernas espadanam nas cascatas e sobem nos seus repuxos dão uma ideia muito aproximada do consumo de Lisboa num só dia!
Tal é a obra empreendida, que continua!
E tudo isto foi possível por efeito de três coisas: um Ministros: Duarte Pacheco; um Governo presidido por um homem (a quem muito deve o presente e mais ainda o futuro do País): Salazar; uma situação política séria, forte e patriótica, que tornou efectivamente viável o extraordinário empreendimento das Águas de Lisboa!
João Carlos Alves
Presidente da Comissão de Fiscalização das Águas de Lisboa
(Parte CXIII de …)
15 Anos de Obras Públicas – 1.º Vol. Livro de Ouro 1932-1947 (113)
(Fonte: 15 Anos de Obras Públicas – 1.º Vol. Livro de Ouro 1932-1947 – ÁGUAS DE LISBOA – João Carlos Alves – Presidente da Comissão de Fiscalização das Águas de Lisboa)